Série criada por André Barcinski com direção de Marcelo Caetano aposta em texto inteligente, atores potentes e identidade visual que cativa o público. Pegue carona nessa cauda de cometa, aperte o Play e delicie-se com essa chanchada moderna da TV brasileira!
"Hit Parade", a nova série original do Canal Brasil, veio tímida e, de repente, passou a ter mais olhos voltados aos episódios lançados semanalmente. Os mais ansiosos, como este colunista que vos escreve, aproveitaram para maratoná-la através do Canais Globo/ Globoplay+. Confira agora sete motivos para você parar de fazer o que está fazendo e assistir à essa produção que brinca entre o retrô e a vanguarda:
1 - O ENREDO
O músico/produtor artístico Simão (Tulio Starling) está sempre correndo contra o tempo para prosperar com sua gravadora, a Sensacional Discos. Casado com Lídia (Bárbara Colen), os dois vivem, na prática, o que a maioria dos artistas e produtores do Brasil vivem: Criam boas histórias, mas encontram-se na pindaíba. Após sofrerem um golpe de Missiê Jack (Robert Frank), Simão, Lídia e a ma-ra-vi-lho-sa sócia Silvana (Docy Moreira) passam a caçar e frabricar talentos excêntricos para vender discos e emplacar nas paradas de sucesso. Para isso, usam como ponte o programa "Toca-Disco do Lobinho", que tem altíssima audiência aos sábados, sempre apostando em hits nacionais e em seu fiel corpo de jurados. No entanto, o apresentador Lobinho (Odilon Esteves) exige contrapartidas nada protocolares para divulgar os artistas em seu show.
Isso te parece familiar?
Claro que sim!!!
Quem conhece minimamente a história da cultura fonográfica e a indústria da televisão dos anos 1980 vai fazer associações diretas ao "Cassino do Chacrinha", ao "Viva à Noite", aos protocolos de gravação da SomLivre, aos cantores de um sucesso só, aos ídolos inventados e, claro, ao alto consumo de cocaína nos bastidores. Essas associações, diretas ou indiretas, fazem a série ser muito interessante. Porém, isso já pertence ao próximo tópico.
Em suma, é uma grande comédia de erros que se mistura aos dramas e tragédias dessas personagens quase caricaturais.
2 - AS ASSOCIAÇÕES E O QUE É OU NÃO FICÇÃO
Na série, tudo é ficção, mas os olhares atentos conseguirão encontrar nas personagens e nas passagens alguns elementos que nos remetem à Marlene Mattos, à Rede Globo (na série renomeada por Platina), a Odair José, a Fábio Jr., à megalomania de um apresentador com criação de boy bands (uma mescla de Silvio Santos, Chacrinha, Gugu Liberato - com seus pupilos Dominó e Polegar) e as festinhas fora dos palcos. É possível encontrar ali resquícios de Sidney Magal, de Brazilian Genghis Khan, Baby Consuelo e de até de Xuxa Meneghel. Lembra da famosa fraude da dupla Milly Vanilli? Na série, ela recebe uma licença poética através da dupla inventada Caquí Frappé (Mayí e Raquel Cabaneco). Uma brincadeira! Uma grande brincadeira que não pretende depreciar a carreira de ninguém. Porém, é uma salada de referências que fazem a gente mergulhar fundo na memória afetiva e até se confundir entre fatos imaginados e acontecimentos reais. Há também referências diretas a Carlos Alexandre, Padre Zezinho, Evaldo Braga e outros artistas da época.
3 - OUSADIA REFERÊNCIAL
A atriz pernambucana Nash Laia é a que assume mais personas durante a série. Em busca de emprego no Rio de Janeiro, ela vem com uma promessa que mistura Sarajane, Patrícia Marx e Banda Reflexus, até que, ao engravidar de um ator famoso da novela das seis, "Capim Santo", resolve mudar de foco na carreira e passa a gravar músicas infantis. Confesso que assistindo eu a via mais como uma Baby Consuelo do que como uma Xuxa. Ela com o barrigão fazendo show me lembrou Baby em alguns discos. Porém, quando veio mostrar seu LP para o produtor, o que vejo na contracapa? Uma releitura do disco "Xou da Xuxa 3". Sim, eu tinha (e tenho o disco do Ilariê até hoje). Quando vi a cena, pausei, voltei, respirei e pensei: Eles foram ousados pra caral*l&9o!".
4 - DIREÇÃO DE ARTE E IDENTIDADE VISUAL
A série não tem uma logo fixa. A cada episódio, eles brincam com referências da época. Lasers e neóns fazem parte dessa brincadeira. Como não gosto de pular a abertura quando vejo séries ou novelas no streaming, fiz questão de analisar bem essas vinhetas. As logos me lembram algo de "Elas por Elas", "Água Viva", "A Gata Comeu", "Transas e Caretas"... Um conceito gráfico que fazia parte do movimento new wave e tecnobrega rosa-choque
5 - O ELENCO
Gente boa fazendo coisa boa é bom demais de se ver! As atrizes e os atores mergulharam sem medo na composição das personagens. Das mais arquetípicas às mais estereotipadas. Um show de atuação! Ver Odilon Esteves dando vida a um apresentador gay simpático na frente das câmeras e malvadão nos bastidores é genial. Ele apresenta o programa de patins, minha gente! Pega os carinhas das boy bands e ainda faz casamento de fachada. São muitas nuances que nem dá pra categorizar. Obviamente, há uma mudança estrutural em outras personagens. Tulio Starling, por exemplo, começa como um menino sonhador fanfarrão e pós-hippie que vai amargando com o passar dos capítulos. A roupa e a ousadia da juventude vão dando lugar à espertize e às olheiras cansadas de um produtor artístico que já está de saco cheio do trabalho. Isso dá pra nós uma noção de passagem de tempo bem interessante. Lídia, vivida por Bárbara Colen, dá uma ambientação e contextualização naturalista à série. A personagem representa muito fortemente a produtora que fica em meio ao show business e ao emprego habitual de todo brasileiro. Ela dá uma centrada essencial na obra, diante de tantas personagens positivamente extravagantes.
Luciano Falcão também rouba a cena com o chatíssimo jornalista das celebridades, Adão Tânia. O ator achou o tom certeiro para provocar o carisma e a ira de quem assiste. Ok Ok! A gente sabe que personas do jornalismo ele representa!
Nash Laia mesmo, que faz Ludmila/Natasha... Que vontade de ter um disco dela aqui em casa pra eu deixar ao lado do da Xuxa (embora eu prefira ela cantando músicas para adultos), como a ótima "É um amor que chega, outro vem e vai. Ele diz que chega, entra, fica e sai...Naaaa Naaaa nanana na nanan na naaahmmm...". Pegando esse gancho, vamos para o próximo tópico.
6 - HITS INVENTADOS
A trilha sonora conta com canções originais compostas por novos nomes da música brasileira e por Hélio Costa Manso, que foi diretor das gravadoras RGE e SomLivre nos anos 80. Dos novos nomes, destaque para as composições de Maria Beraldo, Bemti, Caê Rolfsen e Leo Versolato que revisitam o pop oitentista com os olhos de hoje. A série conseguiu a proeza de apresentar composições inéditas super chicletes. As personagens cantam músicas "fictícias" que são tão boas (ou não) quanto às lançadas na década de 80. A cena final, com os integrantes cantando "Nosso Planteta", de Bruno Prado e Caê Rolfsen, emociona. É uma releitura do videoclipe "Lindo Balão Azul" exibido no programa "Pirlimpimpim", da Globo. Ao mesmo tempo em que é um momento bizarro, bizarro, bizarro e pirtoresco (pois mostra conflitos e as chateações dos bastidores de gravação), é uma ode à infância de muita gente. Esse feito faz a série acabar com o pico lá em cima. Muito inteligente... muito inteligente!
7- É PRODUÇÃO BRASILEIRA DE QUALIDADE LANÇADA NO PIOR CENÁRIO DO AUDIOVISUAL
Só por isso, já vale sua audiência!
PROGRAME-SE"
Hit Parade
Canais Globo e Globoplay+
Canal Brasil: sextas, às 22h30
Alternativos: madrugada de sábado/domingo, à 1h55 e madrugada de segunda/terça, às 0h55. Classificação: 16 anos
QUEM FAZ
Criação: André Barcinski Elenco: Simão: Tulio Starling Lídia: Bárbara Colen Lobinho: Odilon Esteves Missiê Jack: Robert Frank Ludmila/Natasha: Nash Laila/ Onésio: Luiz Rocha/ Silvana: Docy Moreira/ Lobito: Gabriel Afonso/ Dona Aparecida: Gláucia Vandeveld/ Cherno Bill: Ramon Brant/ Frank Fabiano: Assis Benevenuto/ Adalberto: Rafael Bacelar/ Cilene Raio Laser: Kelly Criffer/ Pastora: Silvana Stein/ Geraldo/Terry: Gerson Marques/ Lucca Baunilha: Raphael Loures/ Adão Tânia: Luciano Falcão/ Carlos Alberto/Enzo: Gui Calzavara/ Duda Talagão: Bernardo Filaretti/ Leroy: J. G. Franklin/ Dito Chevalier: Rodolfo Vaz/ Débora Frappé: Mayra Mota (Mayí)/ Branca Frappé: Raquel Cabaneco/ Ivanhoé: Edy Star/ Gonçalo: Carlos Francisco/ Jaque: Lira Riba/ Silveira: Janaina Morse/ Lola Ayala: Bruna Chiaradia/ Guiomar: Christiane/ Antuña Mariana: Paula Amorim/ Gracielle: Ana Clara Martins/ Paulo: Daniel Jaber Walter/ Midas: Eduardo Moreira/ Tina: Rejane Faria/ Fã stalker: Ana Carolina Siqueira/ Fã peruca: Talita Braga/ Mike Baunilha: Leandro Bolina/ Bobby Baunilha: Lucas Barbosa/ Jornalista Denise: Cris Moreira/ Zazá: Mariana Ruggiero/ Dimitri: Carlos Magno JJ Martins: Claudio Marcio/ Padre Zezinho: Beto Militani/ Rasputin: Diego Siqueira Felipe de Oliveira/ Lelo dos Andróides: Gabriel Mendes/ Bella La Pierre: Gabriela Dominguez Direção Diretor: Marcelo Caetano 1º Assistente de Direção: Flavio Vacchiano Produtor de Elenco: Ricardo Alves Jr. Roteiro Roteiristas: André Barcinski e Ricardo Grynszpan Produção Produtor: Alcides Ferreira Produtora Executiva: Marcella Jacques Diretora de Produção: Carol Gontijo Coordenadora de Produção: Keila Castro Direção de Arte Diretora de Arte: Maíra Mesquita Figurino Figurinista: Caroleta Maurício e Flora Rebollo Maquiadora: Gabriela Dominguez Fotografia Diretora de Fotografia: Wilssa Esser Som Técnico de Som: Gustavo Fioravante Edição e Desenho de Som: Pedro Durães Montagem Montador: Fabian Remy Identidade Visual e Animações: Raul Luna
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