Um verdadeiro escândalo em Samambaia Sul. Há cerca de três meses, o Complexo Cultural Samambaia tem sido palco de cultos religiosos neopentecostais com o aval do Gerente de Cultura, provocando a indignação de produtores e artistas locais que tanto lutaram pelo espaço.
Cultos disfarçados de conferências e shows. É assim que pastores e pastoras estão tomando conta das pautas do Complexo Cultural Samambaia com aval da equipe gestora de um dos mais importantes equipamentos culturais ligados à Secretaria de Cultura da parte sul do Distrito Federal. Ao cair da noite, mensagens de artistas e produtores culturais passaram a chegar pelo instagram e whatsapp com a denúncia que afronta mais de 20 anos de luta da comunidade artística de Samambaia.
Nos vídeos captados, uma pastora faz a pregação para uma plateia lotada e, por mais que haja o disfarce de Conferência, trata-de de um culto padrão de igreja. A questão principal é: Por quê?
Com tantas igrejas neopentecostais espalhadas pela cidade, por que o uso de um equipamento cultural oficial da Secretaria de Cultura permite que atividades como essa sejam realizadas sem consulta ao Conselho de Cultura da cidade e aos artistas locais?
As primeiras denúncias surgiram em junho, ainda sob outra gerencia. Na ocasião, uma atração com música "retrô" pediu pauta ao Complexo Cultural. Na verdade, a atração era um louvor, que usou a chancela de show musical para aprovação da equipe gestora que, ao que parece, nunca está presente no ato das atividades para fazer a conferência habitual para que constem nos relatórios o tipo de atração que realmente está sendo realizada.
A atitude é tão grave que gera indignação de artistas que ajudaram a montar esse importante espaço para a promoção de cultura e lazer na cidade de Samambaia. Por décadas, representantes do teatro, do circo do movimento de Quadrilhas Juninas, do Sarau Complexo (que colhia assinaturas e ideias de agentes culturais semanalmente para pressionar o governo a destinar uma área em ponto estratégico que fosse a casa das artes, um local de segurança, acolhimento e liberdade). Agora, com o advento de ações recorrentes que pautam um produto e entregam outro, há o notório desvirtuamento do propósito original do Complexo Cultural.
Ora... se num projeto cultural patrocinado pelo GDF o artista precisa cumprir o estabelecido no objeto da proposta, por que isso não é aplicado para às pautas livres que vendem um produto para transformar o local sagrado de teatro num templo para o qual ele não foi projetado? Outras reclamações de artistas locais ou de artistas que foram contemplados nos Editais Cultura em Todo Canto é que, nas fases de produção das atrações, não há apoio efetivo do Complexo no que compete à divulgação local, à divugação via redes sociais e a eventuais circunstâncias em noites de apresentação, pois, de acordo com a categoria, no momento dos espetáculos (que geralmente acontecem à noite), a equipe administrativa não está presente, ficando apenas o diálogo raso entre os produtores dos projetos e os vigilantes do local, que são os responsáveis por controlar ligações de luzes, conferência de equipamentos e acesso a locais como cabine de iluminação e camarins. Há, inclusive, denúncias de artistas que tiveram acesso negado às cabines com mesa de som e luz horas antes de seus eventos.
Inaugurado em dezembro de 2018, o Complexo Cultural Samambaia foi construído em uma área de quatro mil metros quadrados, e fica próximo à Agência dos Correios e a Agência do Trabalhador da Região Administrativa. Regido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec), o espaço se consolidou no segmento de cultura e eventos da Samambaia e assim garante forte presença no cenário artístico local.
A construção do complexo foi articulada pela Secec e Administração Regional de Samambaia, em parceria com a Companhia Urbanizadora Nova Capital (Novacap), com investimento de R$ 4,8 milhões do Fundo de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal.
A luta dos artistas de Samambaia recebe hoje uma grande torta na cara com dose de escarnio de quem gerencia um espaço que deve atender à comunidade por meio de atrações artísticas e culturais. Verônica Moreno, grande atriz e ativista que ajudou a formar tantos atores na cidade e que dá nome ao Cineteatro do Complexo, hoje estaria bem triste ao constatar o que fizeram com seu palco.
Há uma questão para reflexão levantada pelos artistas: Por que a Secretaria de Cultura nomeou um gerente da Ceilândia, se há em Samambaia agentes culturais capacitados para assumirem o cargo?
O Portal Conteúdo segue aberto para posicionamentos do Gerente de Cultura, José Valceli Caetano e dos responsáveis pela gestão de Espaços Culturais do DF na Secretaria de Cultura para que a classe artística tenha pronta-resposta sobre o que estão fazendo com o espaço.
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