Do latim, “Mare Serenitatis” significa “mar da serenidade” e dá nome a uma das maiores crateras lunares. A obra, que é um Réquiem para vozes da profundezas, foi para Martuchelli uma gentil bússola para voltar a compor e cantar
Sacrifícios e embates para encontrar seu lugar no mundo, principalmente para mulheres, resultaram muitas vezes em silenciamento. Luciana Martuchelli e Julia Varley, atriz e diretora de Mare Serenitatis, tiveram problemas na voz e, cada uma ao seu jeito, teve que encontrar uma forma de recuperá-la. Julia Varley tem uma performance famosa chamada O Eco do Silêncio, que conta de forma surpreendente e vocalmente forte esta jornada.
Luciana, ficou sem voz por anos sendo impossível continuar a atuar, cantar, dirigir e dar aulas. Ela conta que foi um longo período de equívocos médicos até encontrar no Tai Chi Chuan e nos treinamentos de outras atrizes, incluso Julia Varley, e de fonoaudiólogas, como Mara Belau e Yonara Caetano, o meio para recuperar a voz, bem como integrar o silêncio. “O silêncio se revelaria um grande e generoso mestre”, afirma Luciana.
O trabalho foi além de restaurar a voz, mas descobrir a imensa capacidade feminina de autorrenovação. Com o passar de anos, sua voz voltou. Mare surge da percepção de um emudecimento não somente sonoro ou físico, mas também arquetípico e estético, tanto forçado como opcional de muitas mulheres, e de mulheres artistas ao longo da história; mulheres que não usufruíam de crédito, espaço, emancipação legítima, estudos, e que foram obscurecidas ou tiveram que ter uma representação masculina para suas vozes ou mesmo nenhuma.
Inspirado no conto “A Pequena Sereia” que sacrificou sua voz por amor, trocando- a por pernas, o espetáculo surgiu da busca por renovar nossa capacidade de doação, às vezes obscurecida pela dor. Para relegendar “O canto da sereia” que, ao invés do que se espera, guia-nos para longe dos recifes. Salva-nos! Encoraja-nos a mergulhar fundo num mar amniótico, e a abarcar e abordar o universo mítico e psicológico das sereias e suas origens, evocando um espaço onde vive silêncios, lamentos, herança, ressentimentos, medicina, entrega, eros, ressonâncias e ação!
Do latim, “Mare Serenitatis” significa “mar da serenidade” e dá nome a uma das maiores crateras lunares. A obra, que é um Réquiem para vozes da profundezas, foi para Martuchelli uma gentil bússola para voltar a compor, a cantar.
Um mapa para um território de sacrifícios feitos em nome do amor, mas não somente por receber amor, mas pelo transbordamento irrestrito dele em nós.
Em Mare Serenitatis, Luciana busca uma ponte entre a sua biografia de desafios como artista e herança feminina com um mundo de sacrifícios e esperas. Muitas vezes, eles alienam o protagonismo existencial de mulheres ou enclausuram suas vozes e generosidade, transformando minas de água puríssima em deserto de mares lunares.
O espetáculo, que traz a diretora Luciana Martuchelli de volta aos palcos, acompanhada dos músicos Guilherme Cezario e Filipe Lima, é em solo autoral, fruto do encontro da atriz candanga com a diretora britânica, Julia Varley, do Odin Teatret.
Desde 2007, esse intercâmbio entre a Cia YinsPiração, de Martuchelli, e o grupo dinamarquês gera muitos frutos como a tradução do livro Pedras d’Água, de Júlia Varley; a participação de Martuchelli nos espetáculos Ur-Hamlet, como atriz; A vida é Crônica e Claro Enigma, como assistente de direção; além do festival internacional de mulheres no teatro Solos Férteis e A Arte Secreta do Ator, criados pela companhia candanga no Centro-Oeste há mais de 15 anos. A residência artística recebe anualmente artistas de toda parte do Brasil e diversos países para treinar diretamente com o criador da antropologia teatral, Eugenio Barba, e o festival internacional de mulheres no teatro é conectado à rede Magdalena Project. Esta rede, fundada também por Varley, fomenta festivais e produções femininas em 50 países e foi espaço propício para o desenvolvimento do tema e para a relação das duas artistas.
Mare Serenitatis é uma coprodução Brasil/Dinamarca, já foi apresentado nos dois países e volta aos palcos de Brasília apenas no final de semana de 26 a 28 de maio, no SESC Garagem, 913 Sul.
Mare Serenitatis
Texto, canções originais, animações e atuação: Luciana Martuchelli
Direção: Julia Varley
Assistente de Direção e técnica: Filipe Lima
Iluminação: Marcelo Augusto
Músicos: Guilherme Cezario e Filipe Lima
Arranjos: Guilherme Cezario e Luciana Martuchelli
Vídeo Design: Stafano Di Buduo
Produção: Juliana Zancanaro
Foto: Marcelo Dischinger
Realização: Cia. YinsPiração Poéticas Contemporâneas
Uma coprodução com Nordisk Teaterlaboratorium - Dinamarca
SERVIÇO
Dias 26 e 27 de maio de 2023, às 20h
Dia 28 de maio, às 19h
Local: Teatro SESC Garagem 913 Sul
Classificação indicativa: 14 anos
Ingressos: R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia para professores, estudantes e maiores de 60 anos)
Antecipados no Sympla https://www.sympla.com.br/mare-serenitatis__1970452
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