A partir da edição de 2007, a Mostra Dulcina se consolidou como um evento artístico continuado. Ao lado do Cometa Cenas, da UnB, passou a mostrar a efervescência criativa do teatro jovem de Brasília.
*O projeto de teatro universitário Mostra Dulcina se destacou no cenário cultural de Brasília no ano de 2007. As edições de número 5 e 6 apresentaram ao público um painel provocador sobre a condição humana, traduzindo com elegância, crueldade e subversão as relações e a convivência no mundo contemporâneo. Nos palcos da Faculdade Dulcina, pré-tombada como patrimônio cultural de Brasília, ganharam vida as obra de grandes autores da dramaturgia universal, como Oscar Wilde, Jean Genet, Sartre e Ionesco, além de dramaturgos brasileiros, como Marcos Caruso, Jandira Martini e do jornalista Fernando Marques. Tudo isso só foi possível graças às comissões organizadoras da Mostra, professores, estudantes e funcionários que mantiveram vivo o sonho de Dulcina. Participaram das equipes Francis Wilker, Robert Litig, Igor Fearn, Nathalia Melo, Luciana Amaral, Kika de Moraes, Tiago Nery e Cristiane Sobral.
As edições de 2007 começaram a mostrar de maneira efetiva as produções de estudantes da Licenciatura (era comum que obras do Bacharelado ganhassem maior destaque). Essa equidade entre obras das duas frentes de formação fizeram a mostra ganhar fôlego e estimular novos criadores e artistas da cena. Passei a acompanhar as obra da mostra a partir da 5ª edição. Por isso, a partir deste texto, alguns comentários e opiniões pessoais sobre algumas obras e ações serão incorporados à matéria.
V MOSTRA DULCINA
A quinta edição da Mostra Dulcina contou com nove espetáculos. Como nem todos tiveram fotografia de divulgação, recorrendo às artes gráficas ou imagens de outras obras como conceito de divulgação, relembraremos aqui as que foram mencionadas no livro "Metamorfoses da Cena - Inventário Cênico da Mostra Dulcina e Festival Dulcina de Cenas Curtas".
Entre os espetáculos que não possuem registro fotográfico, estão "Zé", obra resultante do processo da disciplina de Montagem I da Licenciatura. Na obra, todos os intérpretes estavam com as cabeças raspadas. Uma obra curiosa e muito bem elaborada sob a orientação e encenação de Túllio Guimarães. Dentro da Mostra, foi criada ainda uma "Mostra de Cenas Curtas", que mesclava instalação, performance e teatro em apresentações de monólogos dos atores. A orientação era de Bárbara Tavares. Já "Via Bela Vista" inovou ao tapar os olhos dos espectadores para uma apresentação sonora e fenomenológica. Dirigida por Gabriel F., a obra estimulava as sensações do público com aromas, sons e atuações dos participantes.
"A valorização do processo de aprendizagem nos leva a crer que a técnica exercitada em sala de aula se encaminha naturalmente para um panorama expositivo. Portanto, quando se organiza uma mostra dessa natureza, cumpre-se uma tarefa didático-pedagógica abrangente, englobando o futuro profissional e o público-alvo. A Faculdade Dulcina cumpre sua função como espaço de criação, disseminando as possibilidades infinitas da arte e da educação através do teatro e das artes visuais." - TÚLLIO GUIMARÃES
O espetáculo "As Cadeiras", dirigido por Bárbara Tavares, mostrava o universo do teatro do absurdo da obra de Ionesco; "A Cidade das Esmeraldas", livre adaptação de "O Crime de Lorde Arthur Saville", de Oscar Wilde, foi dirigido pelos Irmãos Guimarães e contou com a participação dos ex-alunos Xiquito Maciel e Ana Paula Braga. A obra, refinada, trazia um humor ácido e um primor estético típico dos diretores. O protagonista era Marco Michelângelo, que junto do irmão Gabriel F. e da atriz Eli Moura, formou a banda cênico-musical "Três tigres Tristes", que foi muito cativa entre os universitários na época.
Os irmãos Guimarães dirigiram ainda "O Jardim das Delícias", inspirado em "O Aniversário da Infanta", também de Oscar Wilde. Mais uma vez, ex-alunos foram convidados para a realização do espetáculo. "O Balcão", de Jean Jenet, foi dirigido por Alessandro Brandão e apresentado de maneira itinerante. A apresentação começava na Galeria de Arte e seguia ao saguão do elevador. "Nada além do olhar que te vê" foi dirigido por Joana Abreu e era inspirado no texto "Entre quatro paredes", de Sartre. Já o delicioso espetáculo "Queijos, salames e calças-abertas" fazia alusão à típica família brasileira que sempre dava um jeitinho nas coisas. Numa mistura de comédia dos erros e comédia de costumes, a obra se destacou na Mostra e virou uma divertida chanchada na Sala Conchita. A obra, dirigida por Silvia Paes, mesclava estudantes da licenciatura e do bacharelado numa livre adaptação das peças "Porca Miséria", de Jandira Martini e Marcos Caruso e "Um Quatro Cinco", de Gero Camilo.
"A Mostra, sem dúvida nenhuma, foi um dos mais importantes projetos da minha vida profissional. Como estudante de artes cênicas, vi na mostra a grande oportunidade de divulgar meu trabalho acadêmico. Ao mesmo tempo que via matérias sobre nossos espetáculos nos jornais de Brasília, via algo a mais surgindo... Algo que eu não tinha ido buscar na faculdade e que não tinha ideia do que seria: a produção executiva! A produtora executiva que sou hoje devo à faculdade Dulcina, à Mostra, aos meus professores e aos amigos de palco. Estes foram meus alicerces." - NALVA SYSNANDES
VI MOSTRA DULCINA
A 6ª Mostra Dulcina contou com seis obras. Novamente, alguns espetáculos usaram artes gráficas ao invés de fotos de divulgação.
"O Pomar", adaptação de textos de Tchékhov e Bukoski era um projeto de bacharelado dirigido por Alessandro Brandão e mostrava o universo de uma família sobre o prisma da ruína de um grande latifúndio. A assistência de direção era de Isadora Stepanski; "Laboratório Corpo e Teatralidade" era uma adaptação do texto "Um bonde chamado Desejo", de Tennessee Williams e foi feito com estudantes da licenciatura sob a direção de Kenia Dias; "Perdoa-me por me traíres", dirigido por Bárbara Tavares, era baseado na obra homônima de Nelson Rodrigues e foi apresentado no foyer do Teatro Dulcina.
"Quem tem medo de...?" foi um exercício cênico dirigido por Denis Camargo baseado na obra de Miguel Magno e Ricardo de Almeida. A obra mesclou elementos como música e dublagem, brincando com o risível em cena. "Intimidade", adaptação do texto "Carícias, de Sergi Bebel, garantiu um público misto na mostra por um motivo curioso: a obra, dirigida pelos irmãos Guimarães foi a mesma escolhida por Hugo Rodas, no Cometa Cenas, da UnB. A coincidência agitou os públicos das duas faculdades e isso rendeu mais plateia circulando nas duas faculdades.
Outro exercício cênico foi feito com estudantes da licenciatura logo no 2ª semestre deles. Isso gerou um movimento artístico incrível no Dulcina nas edições seguintes da Mostra, justamente por estimular a criação teatral e a apresentação prática logo no começo da vida acadêmica. A semente plantada pela professora e diretora Bárbara Tavares ecoou forte na faculdade. Era o espetáculo "Gaivota: um exercício de cenas curtas" baseado na obra de Tchékhov. No elenco, nomes como Cinthia de Oliveira, Filipe Lima, Hyandra Ello e Kelly Costty. Essa apresentação simples numa sala de aula, aumentou a autoestima dos estudantes de licenciatura.
No próximo texto, as edições da Mostra Dulcina de 2008 - o início da era de ouro do evento. Siga acompanhando as matérias do Portal Conteúdo!
*O texto do parágrafo foi parafraseado do original assinado por Aline Essenburg e Francis Wilker na apresentação do folder da V mostra Dulcina/ 2007.
**As entrevistas, comentários e fotos presentes nesta série de reportagens tiveram como base as 112 páginas do livro "Metamorfoses da Cena - inventário Cênico da Mostra Dulcina e Festival Dulcina de Cenas Curtas", 2010. As opiniões expressas nos artigos usados na matéria, tanto como reprodução integral, quanto em trechos parafraseados, são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
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