As edições da Mostra Dulcina no ano de 2009 investiram em grandes produções. Espetáculos saíram do ambiente acadêmico e foram exportados para outros teatros do DF, do Brasil e da América Latina.
Patrocínios, investimentos e incentivos acadêmicos marcaram o ano de 2009 da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Espetáculos ganharam ares de super produções e nunca se viu tanto público espontâneo decidindo qual obra iria ver. Como o Teatro Dulcina entrou em reforma na época, numa estratégica de distribuição das obras teatrais, algumas peças foram apresentadas em diferentes teatros de Brasília, como o Caleidoscópio, Escola Parque e o Complexo da Funarte.
Espetáculos dirigidos por Alice Stefânia, Giselle Rodrigues, Fernando e Adriano Guimarães, Isadora Stepanski, Josuel Junior, Jhony Gomantos, André Amaro e Túllio Guimarães fizeram parte da 9ª Edição. Já 10ª Edição, contou com obras dirigidas por nomes como Ricardo Barbosa, Francis Wilker, Nei Cirqueira, Cyntia Carla, Jonathan Andrade, Tiago Nery e Maurício Witczak.
9ª MOSTRA DULCINA
A nona edição da Mostra foi dedicada a dois homens que ajudaram a acordar muitas sensibilidades no teatro: Augusto Boal e Mangueira Diniz. Durante 11 dias, o público pode prestigiar a produção artística resultante das atividades acadêmicas dos estudantes, professores e profissionais convidados. A comissão organizadora era formada por Andreia Pereira, Augusto Brandão, Cecília Mori, Francis Wilker, Isadora Stepanski, Josuel Junior, Karita Pascollato e Lúcia Andrade. A produção executiva foi assinada por Laura Arruda.
Nelson Rodrigues dominou essa edição. Quatro obras apresentadas contaram com textos do autor carioca: "O Beijo no Asfalto", "Diálogos", "Experimentos Cênicos" e "Nelsong's Jukebox".
"Nelsong's Jukebox" apresentou personagens de "A vida como ela é" num jogo de cena realizado no Teatro Caleidoscópio. As fotos do espetáculo chegaram a ilustrar a capa do livro "Metamorfoses da Cena - Inventário cênico da Mostra Dulcina de Moraes e Festival Dulcina de Cenas Curtas". No elenco, nomes como Antonia Vilarinho, Cecy Wenceslau e Érika Persan; "Experimentos Cênicos", com direção de Túllio Guimarães, trazia cenas curtas de Nelson e de dramaturgos como Brecht, José Ignácio Combrujas e Edival Piveta. "O Beijo no Asfalto" foi um espetáculo "bônus" que chamou a atenção do público. Com 5 finais diferentes, a adaptação da obra do Nelson nasceu de um exercício dos estudantes Josuel Junior e Jhony Gomantos e contou com direção geral da artista Tássia Aguiar. "O Beijo" foi apresentado no Laboratório de Fotografia com sessões lotadas. O fato de o grupo ter feito sessões duplas todos os dias chamou a atenção da imprensa e o espetáculo foi o único da edição a ganhar uma crítica no jornal. Assim nasceu a Fábrica de Teatro, companhia brasiliense que foi coligada ao projeto Dulcina Parcerias Teatrais. A Cia. recebeu incentivo da faculdade e seguiu para turnês da peça em Brasília, no Espírito Santo e no Chile durante dois anos.
Ainda no Teatro Caleidoscópio, foram apresentadas duas outras peças... "A perseguição... ou o longo caminho que vai de zero a ene", de Timochenco Wehbi, com direção de Isadora Stepanski e orientação de Túllio Guimarães. O espetáculo era ótimo e contou com Juliana Drummond e Vinicius Ferreira num jogo físico interessantíssimo com uma escada-retrátil. A outra obra, "Improvisação: uma hora de jogo", foi dirigida por André Amaro e contou com estudantes da disciplina Treinamento do Ator. No palco, o elenco improvisava, literalmente, com situações físicas concretas.
"Um microfone pela rua" foi uma performance em que músicos e atores se revezavam nas cenas e nos momentos musicais, aliando os temas protesto, amor e carnaval; "Exagero" começou a ser dirigido por Alice Stefânia e foi finalizado com direção de Giselle Rodrigues. A turma de licenciatura desenvolveu uma obra primorosa com três textos curtos de Gero Camilo e o resultado foi uma delícia de ser. Dentre as cenas, uma em especial se destacou e também foi incorporada ao projeto Dulcina Parcerias Teatrais. A cena era "Café com Torradas" e mostrava a performance e o humor de Hugo Amorim, Jhony Gomantos e Guilherme Monteiro. A peça ganhou temporada profissional e, assim como "Beijo no Asfalto", seguiu para o Chile.
Por fim, a situação polêmica da edição... O espetáculo "A Casa", dirigido pelos Irmãos Guimarães era uma livre adaptação da obra "A Casa de Bernarda Alba" e foi apresentado no Teatro Plínio Marcos, da Funarte. O requinte estava presente no cenário e no figurino dos atores e atrizes. Era a peça de diplomação das estudantes de bacharelado e artistas Clara Camarano, Jú Welasko, Kika de Moraes e Valéria Rocha. A peça seguiu para apresentação em São Paulo após a mostra. Antes, para aproveitar o teatro e a ocasião, o mesmo cenário foi utilizado para a apresentação do exercício cênico "Diálogos", realizado com a turma de licenciatura.
A decisão de aproveitar um mesmo cenário para duas obras gerou intenso desconforto entre os participantes e, mais uma vez, protestos dos estudantes. A luz não podia ser modificada, o cenário não podia ser mexido e o elenco não tinha autonomia para criar (e até tocar nas paredes do cenário). As proibições e limitações do uso de camarim e dos locais exatos onde se podia pisar no linóleo geraram muitas queixas. Os atores foram desassistidos pela impaciência da equipe técnica, que pouco se importou com o bem estar deles, cumprindo apenas o mapa de luz desenhado sem prévio ensaio. Essa experiência conturbada gerou acareação junto aos membros do conselho acadêmico após a sequência de reclamações protocoladas. A faculdade, de modo indireto, assegurou aos estudantes da turma que eles não precisariam mais lidar com a mesma equipe executora até o final do curso. Nos bastidores e durante a apresentação, a insatisfação do elenco era notória. Quem viu, lembra bem.
10ª MOSTRA DULCINA
A décima edição da Mostra seguiu o mesmo padrão da anterior, incentivando e valorizando as turmas de maneira igualitária. Os exemplos negativos do ano anterior se converteram na potencialização de novos talentos. Todas as turmas tiveram fotos de divulgação de seus respectivos espetáculos, bem como cartões postais personalizados. Esse zelo aumentou a autoestima dos estudantes e a Mostra foi um sucesso estupendo de público e de ocorrências em imprensa.
11 apresentações teatrais e uma exposição deram vida à Mostra, num ano em que muitos artistas consagrados movimentaram os corredores da faculdade por meio de cursos, palestras e workshops. A coordenação ficou a cargo de Francis Wilker, a comissão organizadora foi composta por Lúcia Andrade, Augusto Brandão, Laura Arruda e Átila Regiani, a produção executiva foi da Infinita Produções e a assistência de produção foi feita por Elizete Santos, Josuel Junior e Karita Pascollato.
"Viúva, porém honesta", de Nelson Rodrigues, abriu o evento. Com direção dos Irmãos Guimarães, a peça contou com nomes como Hyandra Elo, Otávio Salas e Thiago Jorge; "O moço que casou com mulher braba", da adaptação de Alejandro Casoria, foi o projeto de direção do estudante Ricardo Barbosa com participação de artistas convidados e estudantes da faculdade; "O Auto do Lampião no Além" impressionou pelo cenário e pela iluminação. A peça foi, sem dúvida, uma das mais elaboradas nesse aspecto. A direção, cenografia e figurinos foram assinados por Cyntia Carla e os atores Filipe Lima e Janaína Félix roubaram a cena nesse que foi o melhor momento dos dois durante a trajetória acadêmica. A obra "Rinoceros - com um corno ou dois?" foi apresentada no Teatro da Escola Parque. O texto de Ionesco foi adaptado e dirigido por Giselle Rodrigues. Gabriela Pedron, Ricardo Brunswick e Vinícius Guarilha fizeram parte do elenco.
"Luz nas Trevas" foi a adaptação de Brecht feita por Túllio Guimarães. Artistas como Ingrid Soares e Doriel Francisco fizeram parte do elenco; "As artimanhas de Scapino" marcou a estreia do diretor Jonathan Andrade no Dulcina. A adaptação da obra de Moliére foi apresentada na Sala Conchita e teve no elenco nomes como Natália Lays Gomide e Cassius Desconsi; "Título Provisório", dirigido por Tiago Nery, brincou com teatro e artes visuais numa composição estética interessante. Artistas de Brasília como Adilson Dias e Pedro Caroca fizeram parte do elenco; "Meio Século de Inverno" foi uma leitura dramática do texto de Maurício Witczak, que também assinou a direção. Encerrando as apresentações, um dos espetáculos ais bem sucedidos e aclamados pela crítica especializada brasiliense nos anos em que esteve em cartaz: "Dia de Visita".
Inspirado nas obras "Barrela e "A Mancha Roxa", de Plínio Marcos", "Dia de Visita" teve no elenco os mesmos estudantes que tiveram experiências complicadas nos semestres anteriores com as apresentações de "Pequenos Monólogos" e "Diálogos". Porém, todo sofrimento foi compensado com a força e a fúria desse espetáculo, que montou uma cadeia real no subsolo do Teatro Dulcina, dividindo o público em duas alas: Quem quis "visitar" a cela feminina, assistiu "A Mancha Roxa"... Quem quis "visitar" a cela masculina, assistiu "Barrela". A peça dirigida por Francis Wilker e Nei Cirqueira causou comoção e até problemas de lotação e reclamação do público, que não conseguiu assistir às sessões, mesmo com apresentações duplas por noite.
"Dia de Visita" foi apresentado em 2009 na Mostra e, após ser negociado e incorporado à Companhia Fábrica de Teatro, foi reapresentado na Mostra de 2010 e seguiu temporada por teatros do DF com supervisão de Tássia Aguiar. Do elenco original, nomes que trabalham ativamente no cenário cultural brasiliense, como Kelly Costty, Atawalpa Coello, Rafael Soul e este editor que vos escreve. A peça chegou a ser divulgada como uma das atrações do festival FIETPO de Lima/Peru, mas alguns encargos fiscais impedimentos logísticos impossibilitaram a turnê. A última temporada foi realizada em 2011 e o espetáculo de origem acadêmica se tornou modelo de produção na capital, fato que se repetiu anos depois com o premiado "Autópsia" - dirigido por Jonathan Andrade - e que abalou positivamente as estruturas do teatro do DF.
Encerrando a 10ª Mostra Dulcina, o espetáculo convidado "Balada de um palhaço", do grupo Arte & Fatos, a palestra "Conversa com Plínio Marcos", com Kiko Barros, filho do dramaturgo, Encontro com Eugenio Barba e a exposição "Impermanências", que reuniu 54 proposições em artes visuais com a participação de 112 artistas.
Na próxima matéria, você relembrará as edições de 2010 da Mostra Dulcina, que também contaram com espetáculos que seguiram temporadas independentes no Brasil, Peru, Argentina e Chile.
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