Trabalho do artista Rodrigo Kupfer ganha as redes ao apresentar obras homoeróticas com personagens de animes. As obras fazem sucesso na internet, nas ruas e nas camisetas vendidas pra todo o Brasil.
Calma, calma, calma! Você leu sobre "Os Cavaleiros do Zodíaco" na manchete da matéria, mas esta entrevista é bem mais que isso... Digamos que tenha sido uma maneira carinhosa e estratégica pra trazer você até aqui, pois o Portal Conteúdo tem feito uma série de reportagens com artistas brasileiros que falam de diferentes masculinidades e processos criativos.
O foco hoje é falar da repercussão do trabalho do artista multimídia Rodrigo Kupfer, que tem usado seu talento com humor, erotismo e muita sagacidade, brincando, inclusive, com releituras de personagens de desenhos animados ou do imaginário popular com um ponto de vista diferente e interessante. Retire sua armadura do corpo e a mente e viaje conosco (com ou sem roupa) neste texto!
MÊ DÊ SUA FORÇA, PÉGASUS!!!
Rodrigo Kupfer começou cedo a se aventurar com ilustrações. Aos seis anos de idade venceu um concurso cultural com seu desenho e ganhou uma viagem para a Disney.
Filho de mãe artista plástica, desenhou habilitades com o passar o tempo e participou de diferetes ações artísticas, como as exposições politizadas como "Pau na Mesa", em 2017, que foi um manifesto contra a censura no caso do Queer Museu, e "Queerentena", em 2021, onde apresentou a série "Falta de Tato", com ilustrações em fotos de um livro japonês dos anos 1970. O evento foi promovido pelo Museu da DIversidade Sexual com apoio do Governo de Sâo Paulo. Seu trabalho, inclusive, está na publicação do anuário "My Gay Eye", de 2021.
Multimídia, ele investe em grande gama de materiais para aplicação de suas criações, seja em tecido, através de produção de estampas para vestuário, em superfícies diversas, desde a produção de quadros originais e fine-arte para decoração à colagem de lambes nas ruas da cidade. Tudo transita entre a pintura, o desenho e a arte digital.
CÓLERA DO DRAGÃO!!!
Uma das séries de trabalho de Kupfer que tem chamado a atenção dos internautas (que são potenciais clientes) é que brinca com os animes internacionais, como "Thundercats" e "Os Cavaleiros do Zodíaco", sucesso no Brasil nos anos 1990 e que cultuam fãs até hoje.
Na série específica dos "Cavaleiros", ele apresenta visões que muita gente que assistiu aos desenhos até imaginou, mas que nunca verbalizou ou colocou isso no papel. São projeções de situações entre os personagens que mexem com a imaginação do público.
A série de releituras erotizadas dos "Cavaleiros do Zodíaco" - tão amplamente cultuada pelo público infantil dos anos 90, abre outra janela agora. A de adultos que amavam o seriado e que tinham lá suas imaginações acerca de alguns momentos poéticos dos episódios, como os banhos nus de Shiryú, Shin-ru, Shun... A massagem de vida que ressuscita Yoga, o Cavaleiro de Peixes super blasé, Aldebaran, de Touro, todo sugar daddy, Misty, o Cavaleiro de Prata vaidosíssimo pelado no mar, e por aí vai. Aquilo já mexia com os sentimentos de alguns espectadores e Rodrigo Kupfer meio que literalizou esse imaginário através das suas ilustrações. Onde já se viu Seiya e Yoga nus curtindo o momento e Ikky, todo faceiro e sensual? Sobre a criação, o artista comenta:
"Eu amo fazer essa série. Recebo um retorno muito legal de fãs antigos e desejos secretos confessos por direct. Eu não sabia que mexeria tanto com as cabeças ao mostrar minhas versões sobre seus corpos e momentos não mostrados na série. Mas eu também gosto de apresentar as personagens mais à vontade. No sentido de folgado mesmo (sic). Eles não estão lutando nas minhas ilustrações."
A série original ja tinha algumas cenas que serviram muita interpretação. Como as de nudez masculina (comoSaga, Shun, Misty, Camus etc)... "Eu tambem sempre vi um sentimento entre os personagens que ultrapassava o conceito de coleguinhas de batalha. O anime japonês trabalha muito bem os sentimentos e 'Cavaleiros' é um desenho sofrido pra caramba. Aqueles personagens se ferram o tempo todo e os que lhe resta é a companhia um do outro. E sendo soldados, como acontece na realidade, os homens têm pouco contato com mulheres. Logo, eles se recorrem. Ai que eu entro", explica.
Obviamente, a inspiração para seu processo criativo foi construída por meio de influencias do universo pop que teve desde pequeno. Basta que nos lembremos de como eram as capas de revista, os estilos de desenhos, animês e filmes de heróis do passado. Beber dessa fonte auxiliou a criação de uma linha estética e conceitual do artista, que defende:
"Eu tenho uma mente muito colorida e apresento isso em todos os trabalhos. Sobre cada arte nova criada existe uma mensagem que vai conversar com algumas pessoas."
CORRENTE DE ANDRÔMEDA!
Encontramos o perfil de Kupfer ao acaso, pela internet. Fizemos uma matéria especial com outro provocador das artes, o Shaffer, e num dos trabalhos de fotocolagem, havia a participação dele. A partir daí investigamos e chegamos ao seu perfil no Instagram. De lá para o site de trabalho foi um pulo! Aliás, esse encontro entre diferentes fazedores de arte tem criado uma interessante rede de apoio e incentivo entre os criadores. Uma corrente que retroalimenta e mantém ativos os trabalhos de diferentes linhas.
"Eu conheci o Cesar (Shaffer) pessoalmente na exposição "Pau na Mesa", que rolou no Rio de Janeiro em 2017. Ambos participamos junto com o Chris The Red, Mauricio Kiffer e outros. A mostra foi organizada por Lula Duffrayer. A partir daí houve um entrelaçamento nessas pessoas e passamos a acompanhar e recomendar os trabalhos que fazemos. Cada um tem uma especialidade muito legal e todos flertam com o homoerótico. Temos uma luta em comum. Também conheço artistas amigos de outras turmas e seguimos", comenta.
TROVÃO AURORA! Perguntamos a Kupfer o que o move em criar arte homoerótica sabendo que todo dia é preciso transgredir pra sobreviver à censura das redes sociais, ao conservadorismo e ao baixo consumo de produtos artísticos criados de forma independente. Certeiro, ele responde:
"Eu percebo que as pessoas deram uma entristecida nos últimos anos. Aconteceu no mundo todo. Acredito que estamos buscando e achando em referências do passado algum conforto que traga memórias afetivas. Em meus trabalhos com personagens famosos eu ofereço e coleto esse sentimento. As pessoas me contam intimidades. Eu vejo nisso um bom motivo para continuar. Eu converso com a mente das pessoas através de códigos particulares e acho isso uma riqueza. Pois estamos endurecendo e se abrir tá difícil. Mas os conservadores tambem aparecem. Tem muito fã de anime que é chato e imagina algo muito imaculado sobre os personagens. O que me faz perguntar se a gente teria assitido as mesmas séries., já que os japoneses fazem produções sempre meio erotizadas mesmo para o mainstream."
Conheça e acompanhe os projetos de Rodrigo Kupfer através dos perfis @rodrigokupfer e @kupfer.art no Instagram. Hoje falamos da série de trabalho sobre "Os Cavaleiros do Zodíaco", mas tem mais, muito mais em suas redes sociais.
Se você deseja ter uma camiseta dos "Cavaleiros", aqui está o site com a galeria: https://rodrigokupfer.minestore.com.br/
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