Clássico de Benedito Ruy Barbosa será exibido em 2021 na Globo, 30 anos após a versão original. O remake, no entanto, enfrentará desafios. "Pantanal" sem a sensualidade de 1990 não será a mesma coisa.
Hiper-realismo numa época em que esse termo do audiovisual e da interpretação ainda não estava em voga. Em "Pantanal", atores atuavam nus em banhos de rio, cenas de massacre com piranhas e jacarés assassinos assustavam o público e as lendas do interior ainda geravam impactos naquele longínquo 1990.
Sem dúvidas, "Pantanal" é uma das melhores novelas da televisão brasileira. Assumidamente lenta (o que transformou ela num grande sucesso), a trama não tinha pressa em contar a saga da família de José Leôncio (Paulo Gorgulho/Claudio Marzo), um fazendeiro do Mato Grosso do Sul que se apaixonou pela rica e mimada Madeleine (Yngra Liberato/Ítala Nandi). Com ela, teve um filho, Joventino (Marcos Winter), que foi criado longe do pai. Vizinha de José Leôncio, Maria Marruá (Cássia Kiss) defendia a posse de sua terra, até cair numa emboscada que culminou na morte de seu marido e filhos, ficando sozinha com Juma (Cristiana Oliveira), a caçula. Havia no entanto, a lenda de que mãe e filha viravam onças quando enraivecidas. Outras duas lendas presentes na novela eram a do Velho do Rio, um sábio conselheiro que se transformava em sucuri, e do Cramulhão, o temido diabo da garrafa que dava força e poder a quem o carregava.
Os tempos eram outros... A comunicação com pessoas de fora da fazenda era via rádio e a novela se manteve por 216 capítulos mostrando as belezas naturais do pantanal, numa sinergia entre imagens capturadas pela câmera e a interpretação realista dos atores. Não havia muita maquiagem e os intérpretes estavam dispostos a gravar uma novela diferente. A nudez era constante e isso também foi um diferencial da novela. Na verdade, a TV Manchete sempre usou esse protocolo na contação de suas histórias. "Dona Beija" (1986), "Pantanal" (1990), "Tocaia Grande" (1995), "Xica da Silva" (1996) e "Mandacaru" (1997) seguiram pelo mesmo caminho.
Notadamente, a produção de "Pantanal" pela Globo deve trazer maior requinte e melhor captação de imagem dos lindos cenários da região. A relação das personagens com a tecnologia é que será diferente. Em meio à força da internet, será curioso saber como vão retratar as comitivas de boiadeiros pelo interior. A atual comunicação certamente transformará o jeito de se contar as histórias paralelas da trama. No entanto, a nudez certamente não será bem-vinda no Brasil de 2021. Além do avanço do conservadorismo, se a novela for mesmo exibida às 21h, parte do teor sensual será modificado para não sofrer boicotes do público e do Ministério Público.
A trilha sonora de "Pantanal", aliás, é uma das mais bem desenvolvidas. Quem assinou a produção musical foi Guti Carvalho e a trilha tem importantes nomes da MPB e da música sertaneja, além de trilha incidental de Marcus Viana e o grupo Sagrado Coração da Terra. Apostaria até em dizer que a trilha sonora foi tão importante e marcante quanto o elenco e a história em si.
A TRAMA QUE ATRAVESSOU GERAÇÕES
Pantanal foi exibida no Brasil em quatro ocasiões:
1990 - A exibição original, às 21h30;
1991/ 1992 - Às 19h30;
1998/1999 - Esta segunda reexibição tem uma particularidade interessante, pois entrou no ar em substituição à novela "Brida", que acabou com os recursos da emissora. A Rede Manchete seria vendida pouco depois da reestreia de "Pantanal". Sendo assim, essa reprise foi concluída pela RedeTV e os horários de exibição variavam. A transmissão do último capítulo mesmo foi cancelada e no lugar entrou um jogo de futebol. No dia seguinte, exibiram o capítulo por volta das 22h;
2008 - Em 2008 a mais polêmica e popular de suas reprises. Foi reexibida na íntegra pelo SBT às 22h, em 187 capítulos. A exemplo do que já havia sido feito com "Xica da Silva", o SBT comprou as fitas da novela arrematadas no leilão da massa falida da Manchete e passou a reexibir "Pantanal" sem consentimento dos atores e do autor. A Rede Globo contestou a reexibição, pois detinha os direitos do texto, adquiridos de Benedito Ruy Barbosa. O SBT não anunciou a novela com antecedência, pegando o público de surpresa. A emissora de Silvio Santos só começava a exibir a novela Pantanal quando a então novela das oito da Rede Globo, "A Favorita", acabava. A estratégia resultou na migração dos telespectadores, transformando a exibição extremamente popular na época.
Na América Latina, a novela foi exibida até o ano de 2012, sempre com grande impacto com o público. No Chile, "Pantanal", "Tieta", "Xica da Silva" e "Dona Beija são consideradas novelas adultas, sendo transmitidas tarde da noite.
Agora, a novela ganhara nova roupagem. Uma coisa não podemos negar: Todos os remakes de novelas de Benedito Ruy Barbosa foram bem feitos e tiveram boa aceitação de crítica. Com "Pantanal", não será tão diferente... É uma história boa demais, independente do canal em que passe.
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