Eles têm usado a criatividade para gerar conteúdo nas redes sociais. Tem humor com o universo dos atores, tem acidez sobre a situação política do país e tem até cinema feito em casa.
Durante a quarentena, o IGTV tem feito companhia para milhares de brasileiros. Artistas com as mais diferentes ideias e propostas têm realizado vídeos regulares em seus perfis pessoais, conquistando cada vez mais público e injetando qualidade às (inúmeras) produções particulares no período da pandemia. Quem é ator ou trabalha com comunicação sabe que é muito difícil emplacar um conteúdo. Por mais que a pessoa seja criativa, tenha domínio da linguagem e predisposição, não é sempre que se alcança repercussão em massa. Quando isso acontece com qualidade, a ação merece ser louvada sim.
Em Brasília, o ator e comediante Saulo Pinheiro tem melhorado cada vez mais o conceito de crítica política através de seus vídeos ácidos, precisos e muito reflexivos. Saulo faz sucesso na cidade quando está nos palcos. Volta e meia vemos o seu nome nas rodas de stand up comedy e apresentações teatrais diversas. Com o isolamento, tem usado sua popularidade para discutir temas delicados que envolvem ética nas relações, humor e consciência política e social.
Os últimos episódios postados em seu perfil, trazem títulos ótimos que logo chamam a atenção dos internautas, como "Tammy contra Bolsonaro", "Coach de Bolsominion e o ótimo "Depoimento do Corona". O ponto positivo dos vídeos do artista é usar a popularidade que tem para conscientizar o público sobre a importância da diversidade sexual, da liberdade de expressão e dos riscos da intolerância. Os hatters ficam loucos, mas ele segue produzindo com qualidade e ousadia. "Já fui xingado de bosta, de arrombado, de lixo, de esquerdopata, mas o melhor foi pantera-cor-de-rosa. Essa foi ótima!", revelou o ator num vídeo de resposta aos comentários de ódio que recebeu.
QUER VER OS VÍDEOS DE SAULO? >> @pinheiro_saulo <<
Danilo Martim é ator de natural de Goiás e criou uma personagem chamada Cacá de Goianésia, em homenagem à sua cidade natal. Depois de trabalhar em companhias de Goiás, se mudou para o Rio de Janeiro, participando de espetáculos e novelas. Atualmente, mora em São Paulo e sabe bem das dificuldades de se viver de arte no Brasil. Pois bem... ele criou alguns vídeos para o IGTV e um em especial começou a circular muito pela comunidade artística. E a esquete "Cacá, o garoto propaganda", que mostra a realidade de muitos atores e produtores de elenco na hora do casting. É aquele momento em que o produtor precisa ter paciência e o ator precisa fingir costume ao vídeo. O resultado final é ótimo e quem é artista se identifica na hora. "O vídeo tem um apelo mais direto com a comicidade e o fato de Cacá ser um péssimo ator e não ter a menor noção disso explícita mais o tom cômico da personagem", comenta o ator.
É um caminho lento em busca do engajamento. As pessoas vão conhecendo melhor a personagem, o intérprete ou o conteúdo e vão criando afeto e identificação. Gradativamente, essas mesmas pessoas acabam compartilhando o vídeo fazendo com que ele chegue para mais pessoas. Há, por exemplo, a necessidade de sucesso imediato, porém, são vídeos que a longo prazo certamente serão bem conhecidos e organicamente difundidos.
QUER VER OS VÍDEOS DE DANILO? >> @danilomartim.dan <<
Há também ações mais despretensiosas e que só repercutem entre um nicho muito específico, como é o caso das "Aberturas de Novelas Comentadas", em que, com uma narração bem sincera e humorada das vinhetas de novelas como "A Indomada", "Vamp", "Xica da Silva" e "O Clone" ganham nova leitura semiótica. A proposta tem sido difundida entre os noveleiros de plantão na internet. Até Carlos Lombardi, autor de "Quatro por Quatro", gostou do vídeo da abertura da trama escrita por ele. Nesse caso, o foco não é garantir novos seguidores, mas aproveitar o tempo livre com uma boa brincadeira na internet. Sempre alguém descobre um aleatoriamente e a comoção vem à tona.
QUER VER AS ABERTURAS COMENTADAS >> @josueljunior_1 <<
Já o ator Lucas Sancho, do Núcleo O Ator Maestro/SP, desenvolveu a web série "Crimes de Confinamento": O Sumiço dos Itens Essenciais" - pequenas crônicas cotidianas gravadas no próprio apartamento do artista, retratando o isolamento através de uma perspectiva diferente. O projeto nasceu da parceria dele com a amiga Tércia Montenegro. Além dos vídeos no IGTV, Lucas lançou três curtas no Youtube utilizando textos do seu portfólio teatral - é o projeto "Trilogia do Confinamento". A peça “Canções para não dizer” foi adaptada para Marcelo (14’), o espetáculo “O Jardim Suspenso ou A Lucidez do Amor Irracional” serviu de base para Lucidez (12’) e a obra “Quem Matou Edvard Munch?” virou o filme Vermelho (8’). "Parte de uma necessidade da leveza para suportar dias tão loucos e tristes devido à pandemia, pois queríamos nos divertir juntos", conclui.
Os filmes no Youtube serão exibidos até o dia 09 de agosto. Sextas-feiras, às 22h; Sábados, às 20h; Domingos, às 18h. No caso dos filmes de Lucas Sancho, há a opção do público contribuir com R$10,00 ou R$30,00 - que é o ingresso solidário para ajudar a produção.
QUER VER OS VÍDEOS DE LUCAS? >> @lucasancho <<
Como a quarentena é longa, é natural que muitos artistas tenham picos de criatividade, de ociosidade... Natural mesmo, até porque não há incentivo de fomento efetivo e prático por parte do governo. Já que todos se encontram nas redes sociais, o compartilhamento desses vídeos na internet acaba sendo uma possibilidade de interação entre criadores de conteúdo. Tudo isso é o reflexo da democratização das produções na internet. Seja por necessidade pessoal, por estratégia de marketing ou para manter na ativa o fluxo de produção, toda ação, quando se destaca, merece ser compartilhada!
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