A atriz e poetisa de Brasília morreu nesta semana. Artistas, aprendizes e nomes da capital se despediram dela pelas redes sociais.
Atriz carioca-brasiliense, Gisele Lemper foi uma das figuras mais atuantes no teatro de Brasília, especialmente nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Casada por muitos anos com Gê Martú, a mãe da atriz e diretora Luciana Martuchelli esteve internada na UTI por mais de 80 dias por uma sequência de fragilidades físicas, como um quadro de pneumonia. Pelo Facebook, foi realizado um chamamento de doação de sangue para ela, ação que também foi compartilhada pelo site oficial da Polícia Militar do Distrito Federal.
Autodidata, teve seu gosto pela literatura estimulado pelas bancas de revistas de um tio italiano no Rio de Janeiro. Era lá que ela lia os gibis, as fotonovelas e os romances. Apaixonada também pelo cinema, sonhava em ser uma grande estrela, conforme disse em uma entrevista antiga ao Correio Braziliense. A atriz residia no DF desde 1961. Ainda na entrevista cedida ao Correio em 2009, comentou sobre a vinda para a nova capital:
"Fui uma das pioneiras. No começo, senti muito por ter deixado o Rio. Aqui, não tinha mar, era um grande deserto vermelho. Mas logo percebi que, como disse Lúcio Costa, o mar de Brasília é esse lindo céu. Mais tarde, a beleza dessa cidade se tornaria tema recorrente na minha poesia".
No teatro, esteve no elenco que inaugurou o Teatro Dulcina com a peça "Gota d'água", em 1980, a exemplo de Chico Sant'Anna, outro ator da cidade que já esteve em nesta coluna. O espetáculo circulou por um ano no Brasil.
No ano de 2000, lançou o livro "Estrela do Oriente", produção independente, e em 2001, "Rosa dos Ventos", pelo Fundo de Arte e da Cultura da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal. Anos depois, em 2003, lançou outra obra, "Esfinge". Posteriormente, em 2009, lançou "Tempo de Poesia", ambos pela Thesaurus Editora.
Recordo-me de sua ousadia e simpatia. Entrou em contato comigo pelo Facebook há muitos anos e disse: Quero te dar meus livros! Hoje os tenho guardados com respeito na estante do escritório. E assim deve ser o artista... Ele quer que sua obra seja vista e procura seu público. Nos encontramos sazonalmente em algumas estreias da cidade, sempre com respeito e admiração.
Após a notícia de sua morte, muitos conhecidos, admiradores e amigos manifestaram o pesar por sua partida nas redes.
Jones Abreu Schneider comentou: "Tinha a força e a disciplina de uma grande mulher dos palcos. A vi pela primeira vez em 'Mãe Porra Louca', no teatro Dulcina, dirigido pela filha Luciana Martuchelli. Em 2010, numa homenagem a Procópio Ferreira, Gisele pediu-me que entregasse um de seus livros à Bibi Ferreira e assim o fiz. Bibi disse: 'Trabalhamos juntas em Gota D'água. Uma grande atriz de um carisma raro'".
"Gisele Lemper deixará saudades... Sua personalidade forte, marcante, doce e com aquele amargor típico de quem conhece todas as armadilhas do ego", lembrou Joelma Pereira.
"Gisele também escrevia poemas, muitos, feitos de luz e esperança. Fui seu fã desde a primeira cena, Gisele. Descanse em paz, graciosa criatura amada", disse Celso Pires Araújo.
"Brasília perde duas importantes figuras de sua cultura... Perde a atriz Gisele Lemper, pioneira que chegou aqui em 1961, ainda no barro vermelho, fazendo teatro em caravanas pros operários dessa imensa construção. E perde a poetisa Gisele Lemper, que domou tão bem as palavras e nos deixa centenas de buquês dos mais variados perfumes, como ela era.", reforçou Juliana Zancanaro.
"Vai-se a mestra, fica o seu legado. Obrigado Gisele por me ensinar todo o pouco que sei sobre leitura e interpretação de textos dramáticos. Com certeza estará compondo a grande constelação das poetizas e atrizes aí em cima", disse Ênio Sales.
"Gisele Lemper, amiga querida, professora inestimável da arte, do viver, e da arte de viver. Assim foi a sua despedida. A escrita das linhas...Em plena pandemia, a mais linda despedida que presenciei em toda a minha vida", relatou Marcia Amaral.
"Agradeço por todos os encontros que tive com a querida Gisele. Com ela, aprendi muito sobre duas das minhas maiores paixões: o ofício de ator e as Letras. Foram trocas riquíssimas em que não via o tempo passar. Sempre uma grande mentora para mim, abrindo caminhos na arte e me encorajando", lamentou Guilherme De Rose.
O ator, diretor e jornalista Andre Amaro, publicou fotos antigas de trabalho com a mensagem:
"Minha homenagem a essa atriz e poeta de grande personalidade. Tinha por ela uma profunda admiração. Forte, intensa, veraz, de 'raro carisma', como dizia Bibi Ferreira, sua parceira de cena em 'Gota D’água'. O teatro de Brasilia agradece sua histórica passagem por aqui. Vai com o vento, minha querida e implacável Gisele!!! Que sua caminhada continue no eterno tempo da poesia".
O Portal Conteúdo presta solidariedade aos amigos e familiares, em especial a Gê Martú e Luciana Martuchelli, entusiastas das artes em Brasília e no Brasil.
"Faço uma janela para minha palavra se é chegado o momento de dar o recado. Uma janela aberta no tempo cria uma outra realidade, outra linguagem com que te falar. Sempre que faltou energia elétrica, eu escrevi à luz de velas ou lamparinas, sempre escrevi à mão, poemas e cartas, artesanato nas noites sossegadas"
GISELE LEMPER
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