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Josuel Junior - Editoria

PRECISAMOS FALAR DE NOBU KAHI

Ator, professor, agitador cultural, amigo de gente famosa, famoso em Brasília. Aquela figura que todo mundo conhece, sem ao menos lembrar de onde conheceu. Precisamos falar (novamente) de Nobu Kahi!

Nobu Kahi por Hugo Santarém

A coluna "Precisamos falar de..." surgiu em novembro de 2017 no site JosuelJunior.com. Com o tempo ela cresceu, migrou para o Portal Conteúdo e o volume de leituras da coluna triplicou. Como o texto sobre Nobu Kahi foi o primeiro a ser publicado, quando o projeto ainda era um piloto, nada mais justo que atualizá-lo e relançá-lo. Engana-se quem pensa que será um copia-e-cola. De lá pra cá, Nobu já fez muitas outras coisas.


Eu já sabia quem era Nobu Kahi, mas não fazia ideia de onde o conhecia. Só sabia. É meio que um senso comum, entende? Por exemplo... Todo mundo sabe que "Roque Santeiro" é uma grande novela, mas metade das pessoas que sabem que "Roque Santeiro" foi uma grande novela, nunca nem viu a trama. Pois bem... essa era a imagem que eu tinha dele: Alguém que faz as paradas em Brasília, mas que eu não conhecia. Havíamos gravado um filme em 2012, porém, ainda não tínhamos intimidade. O filme chamava-se "Infrator". Tínhamos uma cena de luta e eu estava usando bengalas. Foi uma madrugada de filmagem bem louca. Nos reencontramos no lançamento do filme, durante o Festival de Cinema, e não nos vimos mais.

Nobu em: Psy do Cerrado/ Testemunha de Satam/ [Nu] Objeto/ Infrator (Acervo pessoal)

Um dia estourou um vídeo na internet gravado na Universidade de Brasília. Era uma paródia do clipe da música "Gangnan Style", do sul-coreano Psy. O vídeo é bem trash, mas é gostosinho de assistir uma, duas ou, sei lá... cinquenta e quatro mil vezes (contagem atual dele na rede). Na época em que o vídeo bombou no Youtube, eu estava trabalhando na produção de reportagens da Globo Brasília e lá sugerimos uma matéria sobre ele para o DFTV (jornal local daqui). Fizemos uma matéria bem elaborada e que rendeu um material bruto que editamos de uma maneira descontraída (o que deixou o VT bem divertido). Dias depois, a matéria foi ao ar se tornou uma das reportagens mais acessadas e twittadas do Portal G1 DF, na ocasião.


Depois desse episódio, tive a surpresa de atuar com ele num vídeo de humor, também da internet, chamado "Testemunha de Satan", e de contar com participação de Nobu peladão no ensaio e exposição "[Nu] Objeto", que produzi com Daniel Fama na época da Fábrica de Teatro.

Pois bem... De repente, Nobu estava na televisão, na internet, nas estreias de espetáculos que eu ia e, pouco a pouco, passou a ser uma figura sempre presente em minha memória. Você trocava de canal na TV e lá está ele sem camisa no Programa "Legendários" (Record TV), trocava de novo e ele está cantando karaokê com Regina Casé no "Esquenta" (TV Globo). Não bastasse isso, ele ainda estava e está sempre nos intervalos comerciais da TV em campanhas publicitárias diversas. Aliás... ele faz cada papel... Não tem como passar despercebido. Lembro de uma vez em que fui dar uma entrevista numa rádio e PÁ... quem era um dos entrevistadores? Nobu Kahi. Eu já nem questiono. Levo o susto na hora, mas aceito e sigo o fluxo.

Nobu em: Legendários/ Campanha GDF/ Campanha CAESB/ Esquenta

Nobu é presença constante no teatro, seja na Agrupação Teatral Amacaca ou em apresentações sazonais em projetos curtos. Confesso que não sei como ele dá conta de estar em cartaz direto e em peças totalmente diferentes uma da outra... e mais que isso... Ele assiste a tudo! Eu vou pouco ao teatro porque só saio de casa mesmo se a peça me conquistar já no argumento do release, mas sempre que vou lá está o Nobu na plateia. É quase inacreditável. Seus últimos trabalhos como ator no teatro foram nos bem sucedidos projetos "Saltimbancos" e "O Rinoceronte", dirigidos por Hugo Rodas.


O LADO B


Essa figura engraçada, extrovertida, que grava e stories de redes sociais repletos de humor e catuaba, surpreende quando abre seus canais de comunicação para falar das dificuldades da arte e dos desafios rotineiros de se manter como artista independente. Quando li algo sobre isso a primeira vez, confesso que me choquei imediatamente, mesmo sentindo na pele muitas dessas questões. Irei contextualizar...


Há um tempo, Nobu escreveu um daqueles textões que a gente escreve quando está insatisfeito e falou do quanto estava sendo difícil viver de teatro e publicidade sem ao menos receber por um dos dois. Na ocasião, citou um cachê atrasado e ofereceu seus serviços artísticos para trabalhos aleatórios, afinal, todos precisamos nos manter. Essa exposição de Nobu, nos assustou e fez refletir por dois motivos:


1º - Nós, artistas de Brasília, vivemos realmente com dificuldade quando não estamos em algum projeto com patrocínio em andamento;

2º - Nós, artistas de Brasília, muitas vezes, comemos Nissin Miojo e arrotamos creme de abóbora com gorgonzola nas estreias e vernissages da cidade.


A publicação de Nobu apresentou uma super problemática que todos nós vivemos e pouco falamos. Sabe aquela máxima de "não me dê likes, me ofereça jobs"? Ela veio como um tapa na cara de todos nós pela voz de quem habitualmente só nos fazia rir. E aí o que fazemos? Apoiamos, damos um like, torcemos pra que a situação do colega melhore e ficamos nós, do lado de cá da tela, nervosos e ansiosos, pois, assim como ele naquela ocasião, todos nós seguíamos por aqui com nossos cachês atrasados também e com vergonha e medo de protestar, pois a pior represália pra nós, atores, é reclamar de cachê atrasado e nunca mais ser chamado pra outro trabalho pelo qual só receberemos depois de uns 50 dias da gravação.

Aí o tempo passou, Nobu seguiu (e segue) trabalhando, gravando, dando entrevista de improviso pra Fátima Bernardes no "Encontro" (TV Globo), participando de festivais, temporadas, eventos temáticos, encontros de blogueiros (sim... isso mesmo), até que, do nada, nos surpreende como professor de artes da rede pública. Formado recentemente em Educação Artística pela UnB, Nobu prestou o concurso de professor temporário e em sua primeira experiência em sala de aula teve contato com estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Seus alunos estavam desmotivados com as comemorações de formatura e sabiam das dificuldades de alugar beca e participar da cerimônia de despedida da escola. O que Nobu fez? Uma campanha no Facebook para arrecadar fundos e conseguir parcerias. Não deu outra... Os estudantes conseguiram participar da cerimonia, tiveram foto, beca, maquiagem e canudo. Essa ação tão bonita foi, inclusive, uma das primeiras notícias do Portal Conteúdo.


Em nossa última conversa, assim que o avisei dessa nova matéria, chegamos à conclusão de que já não somos mais aqueles jovenzinhos de anos atrás. O tempo pesa, a idade vai chegando e não estamos mais num padrão de papel de estudante da "Malhação", porém, já podemos fazer uma "Éramos Seis" da vida. Nessas reflexões sobre carreia e sobre um perfil que a gente passa a imprimir bastante pelos trabalhos que aceitamos, ele manteve o bom humor característico e comentou: "Acho que vou fazer um aplique de barba. Meu sonho é fazer algo em que eu entre em cena com um filho.".


Meus, caros, minhas caras.... é isso! Sem duvidas, ele é um ótimo exemplo de como nós, artistas, lidamos com o glamouroso e cru mundo da arte. Não é a toa que o escolhi para abrir esse projeto que hoje é um dos mais lidos no segmento de coluna cultural de Brasília. Por isso, precisamos falar novamente de Nobu Kahi!

"Sou um cara esforçado. Um operário. Acho que os chefes percebem isso. E não quer dizer muita coisa. Sinto que toda essa jornada de conhecimento é um caminho. Um meio. Trabalho com quem quero. Com quem posso. Com quem quer compartilhar comigo algo. Nem sempre dá certo. Já fui expulso do 'teatrando' da Adriana Lodi. Luana Proença recomenda não trabalhar comigo. Ainda bem que existem mais pessoas fazendo teatro. Senão já teria desistido logo no começo."
NOBU KAHI

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