Ele prestou vestibular para a UnB sete vezes! Sete vezes foi aprovado. Se formou em Artes tanto na Faculdade Dulcina quanto na UnB... Dá aula em escola e faculdade e faz mais peças do que você e eu na cidade. Definitivamente, precisamos falar de Pedro Ribeiro.
Conheci Pedro na UnB, mas passei a conversar mesmo com ele no Dulcina. Logo nos tornamos amigos e pude ir vendo de perto o quão talentoso esse ator é. Dono de um coração imenso, esse pequeno grande homem trasborda energia e dedicação.
São muitos os espetáculos dos quais ele participa, tanto do lado da UnB, quanto do lado da Faculdade Dulcina. Pedro não é aquele ator que estampa as matérias de jornais de Brasília, mas faz parte do elenco de muitas peças que sempre são motivo de notícia na mídia. Eu diria até que ele é um dos profissionais mais atuantes e viscerais que conheço. Intenso, potente, escatológico!
Tive a oportunidade de contracenar com ele em muitos trabalhos dentro e fora do ambiente acadêmico, como “Anjo Negro” (Nelson Rodrigues), dirigido por Cyntia Carla e Glauber Coradesqui em 2010 e “O Inspetor Geral” (Nicolai Gogol), dirigido por Hugo Rodas também em 2010. Lembro-me que no meio dos ensaios de “O Inspetor”, tivemos uma notícia absurda de que ele estava em dúvida se continuava fazendo a peça ou se assumiria o curso de física, no qual acabara de ser aprovado na UnB. Isso mesmo! Não bastasse ser um bom ator, o infeliz ainda me passa com boa pontuação para física, deixando todo mundo do elenco louco! Na ocasião, ouvimos o diretor Hugo Rodas dizer (gritar): “Mas ele tem que parar de passar no vestibular! No é possível!”. E era verdade...
Na mesma época (e isso pouquíssima gente sabe), Pedro estava escalado para substituir o ator Atawalpa Coello no espetáculo “Dia de visita”, dirigido por Francis Wilker e Nei Cirqueira. “Dia de visita” nasceu na Mostra Dulcina em 2009 e se transformou em coqueluche brasiliense. Um sucesso mesmo! Ficamos em cartaz até o final de 2011. Pois bem... Pedro ensaiou, participou de workshop, decorou o texto e a bendita faculdade de física o obrigou a sair do elenco. Nós, colegas, ficamos chocados com sua escolha na época. Em seu lugar, convocamos o ator Filipe Lima, que interpretou magistralmente a personagem “Louco” nas temporadas seguintes.
Passada a fase da Física, fizemos um outro espetáculo da Fábrica de Teatro onde pude trabalhar diretamente com ele. Tratava-se da peça “Tabus?”, com direção de Rafael Soul (que, inclusive, voltou em 2018). Na peça, éramos irmãos incestuosos que faziam coisas eroticamente peculiares em cena e isso nos rendeu imensos e hilários episódios nos bastidores. Recordo-me de uma ocasião em que deveríamos ensaiar os sons de uma masturbação em dupla diante de um televisor que exibia trechos de “Xica da Silva” (novela da TV Manchete). Entre um sussurro (cênico) e outro, fomos ingenuamente flagrados por Celeste Silva, técnica responsável pelo Teatro Dulcina na época. Celeste ouviu os sons, chamou por nós e nós dois simplesmente não soubemos explicar aquela cena toda. Aceitamos o flagrante de algo que sequer aconteceu porque seria mais difícil tentar explicar. Que bom que Celeste foi discreta.. rsrsrs
Brincadeiras a parte, estamos falando aqui de uma pessoa que nos provoca, incomoda e surpreende em cena. De um cara que foge às estatísticas de que ao entrar para a sala de aula, o ator deixa de trabalhar nos palcos para se dedicar unicamente à escola. Ele foge à regra justamente por dar conta (e muito bem) dos dois ofícios. A gente, às vezes, nem sabe o que ele anda fazendo, mas quando vê as redes sociais de outros colegas de profissão, logo o reconhece sorrindo em fotos nos bastidores de algum novo espetáculo da cidade.
E são muitos os bons espetáculos dos quais ele participa. Sua performance em "Autópsia" (Grupo Sutil Ato) foi incrível! Me lembro da cena de “Dois perdidos numa noite suja”, em que ele e Sérgio Dhubrann/Mário Luz deram vida a Paco e Tonho, na famosa disputa pelo sapato roubado. É daquelas cenas que fazem a gente sentir vontade de sair do acento e abraçar os intérpretes por tanta verdade. Uma coisa foda de se ver mesmo. Talvez essa seja a matriz do fazer teatral... continuar fazendo, seguindo um fluxo natural de criação e produção ir aprendendo com personagens tão diferentes uns dos outros.
E aí Pedro segue trabalhando, participando de uma peças e lecionando em escolas e em faculdade. É um profissional que vai de um pico a outro em instantes. Só nos últimos três anos, participou como ator e performer nas obras "Afetar-se", "Entrepartidas", "Entre quatro paredes", "Entre quatro paredes", "Tabus?", "Autópsia III e IV", "O Mambembe" e "Coração Leal".
Pedro também é formado pelo Centro de Teatro do Oprimido como multiplicador e assumiu em 2020 a disciplina Tópicos Interdisciplinares em Artes Cênicas e IV na Faculdade Dulcina, onde também trabalhará a temática do Teatro do Oprimido. Recentemente, concluiu o curso de especialização em Direção Teatral.
UM PROJETO PEQUENO DE PROPORÇÕES GIGANTESCAS
O projeto "Gigante pela própria natureza" começou em 2017 no Centro Educacional 02 de Sobradinho, quando houve um evento em comemoração à semana da consciência negra. No entanto, Pedro e os estudantes entenderam que não era muito lógico falar sobre negritude e racismo na escola apenas em novembro e sim durante todo o ano. Foi quando surgiu a ideia de montar um espetáculo com alunos que, de alguma forma, se interessavam pela temática e pelo teatro.
Já em formato de espetáculo, "Gigante pela própria natureza" foi apresentado no auditório da Regional de Ensino de Sobradinho durante a Semana Pedagógica, no Teatro de Sobradinho, na 1º Virada Pedagógica proposta pela Secretaria de Educação – DF, no Festival Estudantil de Teatro Amador – FESTA e no Festival CÉU (Cena Universitária Nacional de Brasília). A aceitação da obra foi muito positiva. Conquistaram o 1º lugar na categoria Projeto e/ou Iniciativa no Prêmio Web de Teatro do DF 2018 criado pelo grupo Tripé. O projeto foi inscrito e aprovado no edital FAC Regionalizado, unindo a Secretaria de Educação e Secretaria de Cultura e Economia Criativa numa só proposta. Foi realizada uma circulação pela comunidade da Fercal/DF (Queima Lençol, Boa Vista e Engenho Velho) e agora estão com algumas apresentações previstas para 2020.
É importantíssimo dar valor e reconhecer o bom trabalho de quem faz essa máquina cultural brasiliense não perder o ritmo da engrenagem. São profissionais como Pedro Ribeiro que nos explicam o real sentido da resistência teatral local. Não é rico, não possui título de famoso, não está entre os mais citados nos recortes de imprensa, mas, se brincar, faz mais espetáculos do que eu e você juntos. A coluna "Precisamos falar de..." existe justamente para falar de quem opera esse navio cultural brasiliense com força e suor. É certo que a figura de um capitão é muito importante diante do leme, dos marinheiros e da tripulação, mas aqui queremos falar é de quem tá sujo de carvão lá na casa de máquinas, movendo e alimentando com combustível a cena artística brasiliense. Por isso, precisamos falar sempre de Pedro Ribeiro.
"O próprio artista se enche de restrições para ir ao teatro e reclama da dificuldade que é ganhar minimamente com a bilheteria. Precisamos nos ajudar mais!!!!Vamos ao teatro! Deixar de tomar uma cerveja não vai fazer mal, não. Vamos nos ajudar nesse trampo, que é a bilheteria. FAC é massa, vamos aprovar projetos SIM, mas não pode ser a única opção!".
PEDRO RIBEIRO
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