Publicitário, designer gráfico, artista plástico e performer. Ele tem conciliado o trabalho e a pesquisa em artes com a experiência em comunicação social. Sim... Precisamos falar de Ramon Duarte!
Ele começou na publicidade, migrou de maneira improvável pra televisão e teve na Globo uma projeção extremamente forte, sendo repórter comunitário do DFTV. Na contramão da vida capitalista, formou-se em comunicação, trabalhou anos no setor público e, agora, resolveu entrar numa faculdade de artes. Essa é a filosofia de vida de Ramon Duarte.
MAS VAMOS AOS POUCOS...
Ramon é formado em Comunicação Social e pós-graduado em Previsão de Tendências e Comportamento do Consumidor pelo IESB. É também graduando em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Trabalhou em importantes empresas e produções do DF ao longo dos anos, como Ministério Público do Distrito Federal, 2 Ellis – Comunicação e Publicidade, Conselho de Justiça Federal (CJF), Circuito Brasília Junina 2018 (Imaginário Cultural e Secretaria de Cultura do Distrito Federal), entre outras ações publicitárias de médio e grande porte.
Ainda na faculdade IESB, desejava fazer algo em televisão. Sem muito alarde, participou de um processo seletivo aberto pela Rede Globo que buscava repórteres comunitários. Foram cinco mil candidatos concorrendo a uma das 12 vagas para trabalhar no DFTV (hoje DF1). Ramon foi passando por todas as etapas e, quando menos esperava, já estava ao vivo no telejornal para a apresentação das duplas que iriam representar cidades do Distrito Federal. Trabalhou como repórter no quadro Parceiro do DF que, para ele, foi uma escola, um divisor de águas e uma alavanca para seu crescimento pessoal e profissional.
O projeto Parceiros do DF foi uma tendência, uma projeção percebida pelo meio de televisivo de que a forma de se fazer um telejornal estava mudando. Consistia em contratar jovens moradores de diferentes cidades para falar dos problemas, das particularidades e de outros aspectos que eram/são inerentes ao coletivo. De repente, o morador de Ceilândia recém formado em comunicação passou a se comunicar com 700 mil pessoas a cada reportagem exibida. E olha que foram muitas... Como repórter comunitário do DFTV 1ª Edição e do programa Globo Comunidade, realizou mais de 50 VT’s sobre a cultura, costumes e curiosidades de Ceilândia, tendo treinamento com profissionais como Aliene Coutinho, Marcelo Canellas e Alexandre Garcia. Um projeto pioneiro, nascido no RJ, que influenciou vários outros trabalhos que vieram depois e que ajudaram a modificar o jeito de se fazer e ver TV.
Numa conversa por internet, Ramon comentou que hoje, quando vê uma pessoa que gera conteúdo para canais diversos, pensa que lá em 2011, na Globo, ele já teve acesso a todas as ferramentas necessárias para se fazer um trabalho de extrema qualidade e de auto padrão. Este foi um fator determinante para que ele passasse a traçar uma trajetória e uma carreira como profissional diversificado que entende e assimila as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, pensando sob a ótica da contemporaneidade e suas reviravoltas, claro.
O PAPEL DAS MULHERES E SUA VIDA
Em sua trajetória pessoal e profissional, Ramon Duarte tem um compromisso a cumprir com algumas mulheres que foram fundamentais em sua formação. Durante toda a sua jornada educacional, teve o privilégio de ter professoras de arte engajadas. Ele lembra de sua primeira educadora, a Tia Heloísa... mulher nordestina, militante e guerreira que abriu mão da obrigação de seguir um padrão social tradicionalista, dedicando-se fortemente à educação de seus alunos. Assim como ela, muitas outras mulheres o ensinaram de alguma forma que a arte e a educação são fundamentais para a formação do ser humano.
Ramon veio de uma família humilde. Foi cobrador de lotação e brinca até hoje com o bordão que utilizou por muito tempo: "Vaaaaai Taguacenter, Feira da Ceilândia, Tatico, P Norte, Expansão, Tia Tina e Vitóóóória". Aliás, ele contando suas histórias é praticamente uma sessão de stand up comedy.
Numa de suas recordações, uma história tem significativo destaque... Uma vez, em visita ao CCBB DF, sua mãe, a lendária Dona Soledade, olhou ao redor e disse: "Meu filho! Esse lugar não é para nós! Olhe para essas pessoas, olhe o nível delas!". Essa afirmação tocou fundo naquele menino de Ceilândia, mas também foi o impulso que ele precisava ter para saber que estava seguindo no rumo certo. O rumo da resistência que vai além do grito de guerra, do discurso raso de uma classe burguesa em declínio. O discurso da resistência de quem é da periferia, mas também quer a parte que lhe cabe desse latifúndio, como diria João Cabral de Melo Neto.
Por isso e por muito mais, Ramon entrou na Faculdade Dulcina de Moraes recentemente para mais uma graduação, dessa vez em artes. Pelo jeito, o que Tia Heloísa fez lá nos anos 1990 teve forte efeito! O que serve de motivação a esse profissional que começa mais uma faculdade (depois dos 30) é a vontade de, de certa forma, retribuir todo o aprendizado que conquistou com a ajuda de todas essas mulheres que passaram por sua vida. E tem mais... O que o move é sua própria jornada. É olhar pra trás e constatar que saiu de Ceilândia e agora quer voltar pra lá, pra sala de aula, para dizer para os seus pares que eles têm sim o direito de ocupar os espaços, de existir em todos os lugares. Por tudo isso, sem a menor sombra de dúvidas, precisamos falar de Ramon Duarte.
"Apesar dos percalços impostos por um sistema que quer silenciar , temos uma capacidade incrível de driblar as adversidades e superar os obstáculos com o intuito de redescobrir a história e reprogramar o sistema"
Ramon Duarte - Filho de Dona Soledade
A coluna "Precisamos falar de..." sempre escolhe nomes e iniciativas da cultura brasiliense para textos especiais. Ela estava ativa no site Josuel Junior e agora migra para o Portal Conteúdo. A mesma ideia e proposta. Porém, a partir de agora, para público bem maior.
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