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Josuel Junior - Editoria

QUANTO VOCÊ COBRA PELO SEU TRABALHO DE ATOR?

Você que é atriz ou ator... Sabe quanto pode cobrar por seu trabalho no teatro, no cinema e na televisão? Acredite... Você está aceitando trabalhos que pagam muito, muito mal.

Foto: Alex Biângulo

Comecemos pelo óbvio. O salário mínimo brasileiro é de R$1.412,00 (valor divulgado em janeiro de 2024 pelo GOV BR). Se você é maior de 18 anos, tem DRT da área, formação acadêmica ou técnica e currículo compatível com o serviço, o mínimo que você pode receber ao mês é R$1.412,00. Menos que isso, não faz sentido, a não ser que sejam diárias sazonais de serviços curtos.


Como base para esse texto, usarei as premissas do SATED RJ – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio de Janeiro. Porém, quero começar esse assunto o piso de cada integrante de um evento cultural. Lembremos: O piso é o mínimo que o profissional deve cobrar por seu serviço numa escala mensal, tendo semanalmente, uma rotina de trabalho de 44 horas com repouso remunerado às segundas-feiras e repouso não remunerado aos domingos.


Os SATEDs dos estados brasileiros atendem aquele profissional contratado pelos teatros; casas de espetáculos; centros culturais e recreativos; arenas; lonas; entidades culturais e recreativas, shopping center ou qualquer espaço que seja utilizado para apresentações, responsável pela supervisão e manutenção do espaço e dos equipamentos do espaço, bem como artistas que executam trabalhos nos setores audiovisuais.


Lembremos, claro, que o artista precisa ser instrumentalizado para cumprir, com louvor, a função pela qual foi convidado a trabalhar.



QUAL É O GRANDE PROBLEMA DE BRASÍLIA?

Como em Brasília o Sindicato os Artistas é monopolizado há anos por uma mesma figura não muito cativa, os artistas atuantes da capital não se sentem representados pelo órgão e, consequentemente, não se sindicalizam. Há hoje um movimento da classe para que o SATED DF seja, de fato, um órgão que represente e ampare a categoria, No entanto, para produções de outros estados, é necessário que haja autorização do Sindicato daqui. É nesse momento em que entramos numa sala escura, pequena e que mais parece um escritório improvisado de detetive particular para emitirmos uma ordem de pagamento e pagarmos uma taxa por um carimbo de liberação. E como não há a sindicalização em si (pois os tributos para se estar sindicalizado são grandes comparados àquela saleta tão modesta), não podemos questionar as produções de teatro e vídeo quando nos oferecem migalhas vergonhosas por nossas prestações de serviço.


Agora, no caso de projetos culturais aprovados em vias de editais, como CCBB e FAC, utilizamos como referência de pagamento a Tabela FGV, da Fundação Getúlio Vargas . A tabela é antiga. Aqui usamos a referência de 2012 porque a atual ainda está em processo de adaptação. É ela que usamos como referência e justificativa nos planos orçamentários dos projetos enviados para apreciação em editais, mesmo sabendo que os valores presentes dela não são respeitados pelos contratantes.


A maior dificuldade é que os editais abertos que pedem referências válidas de valores de artistas variam, geralmente, de R$60.000,00 a R$200.000,00. Com R$100.000,00 é até possível (embora difícil) que a equipe receba bem, mas entre R$60.000 e R$ 80.000,00, a coisa fica bem difícil. Por exemplo:


*Numa peça aprovada em edital de R$60.000,00, se for só um ator em cena, dá pra ele receber, ao longo de 4 ou 5 meses de trabalho a quantia de R$6.000,00, aproximadamente.


*Se a peça tem de quatro a seis atores, muito provavelmente a equipe de produção vai reduzir os valores de assessoria de imprensa, contrarregragem, além de extinguir o assistente de direção para que cada ator receba algo entre R$ 2.500,00 e R$ 3.200,00. São raras as vezes em que o ator recebe mais de R$5.000,00 ou R$6.000,00.


*Parece muito? É... ajuda momentaneamente, mas na prática é bem pouco. Divida aí a média de R$3.200,00 por quatro meses. Dá R$800,00 ao mês. Retire desse valor a gasolina de ida e volta dos ensaios numa distância de deslocamento curta de 25 km. Se são dois ensaios semanais, são 50 km por dia, o que dá um total de 100km por semana. 100km num carro econômico são uns R$60,00. Em sete semanas de ensaio o ator gasta aí uns 420,00 de gasolina. Bem... Receber R$ 800,00 e descontar R$420,00 já não é tão sedutor. É por isso que atores dificilmente estão em apenas um espetáculo. Para dar conta de pagar aluguel e as contas, esses profissionais se rebolam entre dois e três trabalhos simultâneos, optando, cada vez mais, por processos de construção de espetáculo mais curtos, justamente pelo fator custo/benefício. Por mais que haja amor e engajamento artístico, o panorama dessa situação é amedrontador.


AUDIOVISUAL

No caso de produtos audiovisuais, pensemos o seguinte... Quando um ator é formado pela faculdade, ele, assim como o jornalista recém-formado tem um valor de mercado (tanto em imagem, quanto em voz). O jornalista entende que, quando formado, eu serviço vale R$10,00 o segundo do VT, seja no vídeo, seja em off (narração). O mesmo valor se aplica ao ator. Nooossa! R$10,00 o segundo é muito! Não... calcule um VT de 30”. O ator recém formado deve receber, nessa perspectiva, no mínimo R$300,00. Conforme o ator tem currículo, know how e aparição em produtos audiovisuais, esse valor vai aumentando. Eu, atualmente, cobro como ator o mínimo de R$50,00 o segundo. Isso quer dizer que eu só topo fazer um comercial de TV de 30” se o menor valor proposto mais baixo for de R$1.500,00. Se leio o anúncio de um casting que oferece R$1.000,00 eu nem vou, porque se eu topo receber menos num momento, não vou poder cobrar o ideal depois.


Um comercial simples, com veiculação de 6 meses a 1 ano na TV e internet, paga, aproximadamente:


*Figuração de 12h em set – R$100,00 a R$200,00

*Ator coadjuvante ou de 2º Plano sem fala / 12h – R$300,00 a 400,00

*Ator coadjuvante ou de 2º Plano com fala/ 12h – R$500,00 a R$800,00

*Ator Protagonista/ 12h – R$ 1.000 a R$3.500,00

*Desconte agora desse valor 15% de comissão para seu agente/ para sua agência de casting.


Em caso de diária dobrada, fique atento. Deu 12h de trabalho, você já pode acionar o agente e a agência para saber como será articulada a situação. Geralmente, a equipe de maquinistas é a primeira a reclamar, pois eles calculam o tempo da desmontagem dos equipamentos pesados. Com isso, toda produção é parada e é feito o agendamento de uma segunda diária. Nesse caso, se você precisa retornar ao set para gravar de novo, é obrigação do seu agente pedir à equipe de gestão financeira do filme/da campanha um acréscimo de 15% de seu cachê. Geralmente pagam direitinho. O importante é não ter vergonha de lembrar.


E O QUE ENFRAQUECE A CATEGORIA?

O que enfraquece todo o rolê de pagamento de artistas profissionais são os artistas iniciantes, pois, no afã de ter experiência e ter portfólio, muitos estudantes de artes cênicas aceitam fazer trabalhos de graça (o famoso “damos lanche”). E geralmente atores profissionais que não tiveram muita oportunidade no período de formação acadêmica ou técnica aceitam participar também. Não é a tôa que muitos curtas-metragens feitos por estudantes de audiovisual pecam quando são finalizados. Os filmes até vão para festivais, mas quem assiste percebe que há uma falha estrutural na escalação do elenco. É muita gente inexperiente com um ou outro ator instrumentalizado. O resultado sempre sugere um comparativo na qualidade de interpretação e, muitas vezes, os filmes exibidos em festivais não saem desse modelo de veiculação. Sabe filme que ganhou 10 prêmios, mas que você nunca viu? Pois é... eles são inscritos em diferentes festivais (acadêmicos ou tradicionais) e, dentre os filmes inscritos nas suas respectivas categorias, eles se destacam, mas não chegam ao público espontâneo. Eu mesmo já fiz filme que ganhou prêmio até, mas que eu, honestamente, achei beeem fraco, editado de maneira primária e com finalização crua demais. Enfim... experiências e experiências. Obviamente há muita coisa por aí.


No caso de comercial de televisão ou profissional, se o intérprete não desempenhar um bom trabalho, ele pode até gravar, mas provavelmente não gravará de novo. E aí os amigos que se profissionalizam, que buscam instrumentalização através de cursos, começam a cobrar por seus serviços artísticos e quem antes contou com a participação desses mesmos artistas sem cachê, tem resistência em pagar por algo que outrora foi de graça. É uma bola de neve. Naturalmente, uma situação que sempre se repetirá.


Desafiador saber de tudo isso, não é? Investigue, fique por dentro, saiba quanto vale o seu trabalho. É muito bom poder ter a ciência do quanto podemos cobrar. Exercite isso... e depois falamos mais a respeito.


Se for menor que um salário mínimo, repense a proposta!


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