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Josuel Junior - Editoria

DE VOLTA EM OUTUBRO, "RAINHA DA SUCATA" VAI MUITO ALÉM DE REGINA DUARTE

Em 2020, muitas tretas da Secretaria de Cultura trouxeram à tona um título de uma novela que há muito tempo não era comentada. Mas não se engane... "Rainha da Sucata", que entra neste mês no Globoplay, é um clássico que vai muito, muito além de Regina Duarte.

A própria

Pode um artista "estragar" toda uma obra de arte por um ato falho? É... poder, pode! A prova maior disso foi o posicionamento político e fanático de Regina ao anterior governo brasileiro. Ela conseguiu fazer com que olhássemos com outros olhos seus trabalhos antigos. Dá uma raiva, uma vontade de criticar, de apontar. Porém, é injusto condenar uma obra inteira por causa de uma única artista... como é o caso de "Rainha da Sucata". A entrevista que ela cedeu (e da qual se retirou) à emissora CNN, causou espanto e perplexidade nos telespectadores e na comunidade artística e suas postagens durante as eleições de 2022 apontaram uma série de questões delicadas da artista. Paciência...


Talvez o título da trama de Silvio de Abreu, exibida em 1990, tenha caído como uma luva 30 anos depois, afinal, é sabido que o estado de sucateamento da cultura e da educação no Brasil foi uma realidade. Diria até que o plano do governo anterior era esse mesmo. A ironia é inevitável... por isso "Rainha da Sucata" voltou a ser tema de conversa, crítica e piada nos tempos atuais. Mas, o que foi essa novela?


SUCATEEEEEEEEIRA!


"Rainha da Sucata" falava da ascensão do proletariado, mostrando a influência que uma família vendedora de sucata teve na grande São Paulo dos anos 1990. Na novela, um sucateiro português (Onofre - Lima Duarte) era o pai de Maria do Carmo (Regina Duarte). Ele começou a prosperar no bairro de Santana até ter um império de fabricação e revenda de automóveis em plena Avenida Paulista. Já no primeiro capítulo ele morre e a herança do império da família causa uma série de confusões. Os filhos bastardos de Onofre, Mariana (Renata Sorrah) e Caio (Antonio Fagundes) entram na disputa, deixando Maria do Carmo indignada por não poder assumir a presidência. Outra figura que tenta ter uma parte da empresa Do Carmo Veículos, que fica no prédio "Sucata" (que nome sugestivo...) é Dona Armênia (Aracy Balabanian), que acredita ser a real proprietária do terreno onde o edifício foi construído. Com isso, Dona Armênia pretendia implodir e derrubar o prédio inteiro... Daí vem o famoso bordão "Na Chon". Dona Armênia fez tanto sucesso que voltou em outra novela do mesmo autor: "Deus nos Acuda" (1992) - esta com bem menos repercussão.


Dona Armênia e suas "filhinhas"

A novela foi feita no período Collor e mostrava os efeitos positivos e negativos do plano econômico do ex-presidente. A empresa Do Carmo Veículos, que fabricava e vendia automóveis, apostou em um novo empreendimento: a Lambateria Sucata. Calma... deixe eu te contextualizar:


Em 1990, a lambada era o ritmo mais popular do Brasil. Aproveitando esse embalo, a protagonista Maria do Carmo teve a ideia de construir uma casa de dança onde as pessoas pudessem contar com shows de grandes nomes do momento, como Beto Barbosa e Sidney Magal. Não é a tôa que o tema de abertura de "Rainha da Sucata" era a música "Me chama que eu vou" (muito legal, por sinal). Na vinheta criada por Hans Donner, vários pedaços de sucata se uniam ao ritmo de lambada, formando uma bailarina que dançava com pessoas reais. Lembra?


BREGA E CHIQUE

Laurinha, Edu e Maria do Carmo

Enquanto o proletariado crescia social e economicamente (representado pela família de Do Carmo), os ricos e quatrocentões de São Paulo entravam em declínio, como era o caso da tradicional família Figueroa, onde tinha a Laurinha Figueroa (vilã brilhantemente interpretada por Gloria Menezes), Betinho (Paulo Gracindo), Adriana (Claudia Raia), Leonardo (Maurício Mattar) e Edu (o mocinho mal caráter interpretado por Tony Ramos). Detalhe: No passado, Edu humilhou Maria do Carmo no baile de formatura, numa cena que lembra o filme "Carrie, a estranha". Ela passou a vida toda remoendo esse momento. Outra trama que havia era a paixão de Laurinha pelo enteado Edu, o que gerou o pico dramático da história.


Totalmente decadente, os Figueroa não sabiam mais como manter a pose. Como Maria do Carmo era rica, mas não era tinha requinte, ela decide "comprar" o amor de Edu, investindo em seus negócios e sustentando a família que estava afogada em dívidas. Assim, ela "entraria" na high society. O conflito romântico era justamente esse... A pobre e brega Maria do Carmo geria as excentricidades de uma família falida em busca de um amor/uma vingança/ um status, até que um dia ela e Edu assumem a verdadeira paixão.

Adriana (Claudia Raia) e Caio (Antonio Fagundes)

"Rainha" foi um sucesso estupendo. Era popular, tinha ótimo texto de Silvio de Abreu e direção inovadora de Jorge Fernando. Uma novela de comédia rasgada e de drama pesado. Foi inovadora. A primeira comédia assumida do horário das oito. Outros núcleos tiveram muito destaque dentro da história, como a relação do professor gago Caio com Adriana, a bailarina da coxa grossa; as maldades de Renato Maia (sócio de Maria do Carmo) com a esposa Mariana (com a qual se casou apenas para ser herdeiro) e as três "filhinhas" de Dona Armênia: Gérson (Gerson Brenner), Gera (Marcelo Novaes) e Gino (Jandir Ferrari), que tinham uma relação de poliamor com Ingrid (Andréa Beltrão).


E é no contexto dessa novela que a onda contra Regina Duarte nas redes sociais se encaixou. Ela passou a ser memetizada na web como "Rainha da Mamata", "Rainha da Suástica" e, literalmente "Rainha da Sucata. No entanto, por mais que Regina Duarte tenha sido a protagonista dessa trama, não é prudente, nem justo, condenar toda uma obra artística por causa de uma só participante, ainda que tenha sido a personagem principal.


Da Regina a gente fala mal mesmo... até porque confunde-se muito a visão de que temos de suas personagens. De um lado, figuras carismáticas, lutadoras e engajadas. De outro lado, a intérprete burguesa de extrema direita, meio tapada e que compactua com o autoritarismo de um governo de ideologias absurdas. Essa mulher de agora não representa, nem de longe, o que nos encantou em seus trabalhos na TV. "Rainha da Sucata", para além da decisão questionável do antigo governo de chamar Regina Duarte para Secretária de Cultura de um país, é uma boa telenovela e tem suas qualidades. Os mais jovens talvez nunca tenham visto, os mais velhos têm vagas lembranças e guardam apenas alguns flashes da história, mas uma certa é certa: Foi uma obra-prima da televisão brasileira.


Texto de Josuel Junior, do Portal Conteúdo.


1 comentario


Miembro desconocido
26 jun 2021

Ah, Regina, o que você fez com a sua vida?

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