top of page
Josuel Junior - Editoria

REBECA COSTA E O LADO INCRÍVEL DE UMA INFLUENCIADORA DIGITAL

Ela tem feito o maior sucesso no instagram com dicas de moda e apresentação de modelos de roupas exclusivas para pessoas com nanismo. Nos últimos dias, surpreendeu positivamente a internet com um vídeo super útil à sociedade falando de preconceitos, mudanças de hábito em prol do respeito às diferenças. Precisamos falar de Rebeca Costa.

Rebeca Costa - Reprodução: Redes Sociais

Eu estava em casa, seguindo o home-office, quando passei a receber vídeos de uma moça falando sobre respeito para com a pessoa com nanismo. Não era um vídeo que eu estivesse buscando na internet e nem um tema com o qual sou familiarizado, mas ele surgiu. E surgiu duas vezes. Quem primeiro me encaminhou Romildo Nascimento, conhecido estilista de Brasília que me disse apenas: "Olha isso!". E eu olhei.


Como recebemos muitas dicas de pautas culturais aqui no Portal Conteúdo, imaginei que você alguma dica de artista em cartaz, um lançamento de uma nova faixa de um EP, mas não... Não era isso... O vídeo começa com a seguinte frase: "Hoje eu vim falar do terno 'anão' ser um termo equivocado. Você não tem culpa de me ver ou de me chamar assim, mas será responsável caso perpetue esse preconceito se não estiver disposto a mudar."


Parei de fazer as coisas paralelas que estava fazendo e foquei na tela do celular. De maneira muito simpática, direta e didática, Rebeca Costa falou com muita exatidão sobre o preconceito vivido há séculos pela pessoa com nanismo. De repente, eu já não estava mais executando a função de colunista em um site de arte e cultura. Eu tinha me convertido para espectador e não percebi essa transição. Foi ótimo! Pude perceber que eu não tinha a menor ideia do quanto agi de maneira condicionada por anos e anos ao ver e/ou conviver com alguém com nanismo. Recordei-me que, em minha época de graduação em Artes, havia uma mulher que sempre pegava o mesmo metrô que eu e eu sempre a via, mas nunca tinha coragem de trocar uma ideia. Eu cheguei a desviar o olhar dela algumas vezes porque tinha receio de ela pensar que eu só a olhava por ser uma mulher com nanismo. Isso é algo que nossos pais nos ensinam de maneira equivocada. Ao verem que, quando crianças, olhamos alguma pessoa diferente, eles nos reprimem e, por vergonha ou por não saberem como lidar, nos dão um puxão de braço e dizem: "Para de ficar olhando!". Isso é grave e reverbera até hoje com muitas pessoas. Até que um dia me formei e, na formatura, essa mesma mulher apareceu na faculdade e me informaram que ela era artista plástica, que havia se formado lá muitos anos atrás. O receio de quebrar uma barreira de timidez e de falta de conhecimento me impediu de viajar e comungar com uma colega de profissão por três anos seguidos no mesmo vagão do trem. Como teria sido bacana falamos de nossas graduações em vez de viagens cansadas e indiferentes no transporte público. E todas essas lembranças vieram quando vi o vídeo de Rebeca.


MAS QUEM É REBECA COSTA?

Looks diferentes fizeram com que Rebeca fosse parar no SPFW. Reprodução: Redes Sociais

Ela é idealizadora do projeto Looklitte, que é uma empresa que realiza palestras, consultorias e criação de conteúdo digital referente a pessoas com nanismo e à autoestima, destimistificando a imagem que se tem do nanismo através de formações para definições positivas e reais por meio da própria vivência de Rebeca e de pessoas que trocam ideias com ela também.


As postagens do instagram comentam muito sobre a falta de acessibiidade na moda para pessoas com nanismo, questionando a precariedade do setor e mostrando possibilidades de elaboração de looks para que seguidores possam ter mais opções de vestimenta e de bem estar. De acordo com Rebeca, a abordagem que ela recebe nas redes sociais é prioritariamente positiva. São muitas trocas com o público, tanto com o público com nanismo, quanto pessoas que estão dispostas a se resconstruir, remodelar a mente, trazendo pra si outra perspectiva sobre o modo de lidar com os outros.


Meio milhão de acessos no Instagram

No vídeo publicado nas redes, Receba explica o poquê de ser errado usar a palavra "Anão":


"É porque ela nos reduz à ideia de humor, a fetiche e a vitimismo na maioria das vezes em que a palavra é colocada. Por muitos anos, pessoas como eu não tinham outra oportunidade a não ser a se submeter a situações ridículas, como servir como personagens de circo (apenas para rirem de nosso corpo, altura ou condição) ou personagens bizarras, que tinham o único fim de divertir o público aos custos da dor e da existência.".


Rebeca vai pegando a gente pela mão no vídeo e nos apresentando uma maneira clara a dor do outro. Isso que a gente tanto fala nas redes quando cita a empatia, sabe?! O mais interessante é que, como alguém que lida diretamente com a moda e com o bem estar das pessoas, ela usa o seu poder de fala das redes sociais para reverberar o respeito ao próximo e para nos lembrar do quanto fomos condicionados a ter um olhar pouco sensível à uma população que há anos foi (e ainda é) negligenciada pelo governo, pela mídia e pelo campo do entretenimento.


"O correto é pessoa com nanismo porque antes de qualquer laudo médico tem minha história, minha condição, minha trajetória, as minhas conquistas, a minha profissão e quem eu escolhi ser. Você consegue me olhar além da minha identidade corporal? Que tal começar a olhar as pessoas antes da deficiência?", reforça a influenciadora.


Quando pensamos na disparidade entre a situação de respeito que se tem hoje com a imagem da pessoa com nanismo nas grandes mídias e com a imagem que se tinha nas últimas quatro décadas, o susto é inevitável. Basta que nos lembremos de programas humorísticos como "Os Trapalhões", "A Praça é Nossa", "Programa do Ratinho", Pânico na TV". A inferiorização da pessoa com nanismo e o colocamento dela como instrumento do risível é um achincalhe à condição humana, ao direito pela respeitabilidade e à honra. Sabemos sim que, com o passar dos anos, novas orientações e ações da sociedade civil o efeito negativo para com esses profissionais nessas atrações. Inclusive, há alguns anos, houve uma primeira tentativa (tardia, não nos esqueçamos), na novela "O outro lado do paraíso", da TV Globo, em que a atriz Juliana Caldas interpretou o papel de mulher com nanismo com conflitos naturais de qualquer ser humano. Foi uma discussão bem diferente da que estávamos habituados. É importante enquanto representatividade? Muito! Mas ainda é pouco...


"Todo cenário positivo referente à pessoa com nanismo é bem-vindo. A mídia tem uma grande possibilidade de trazer um grande conteúdo para a nossa casa. Já de praxe, a novela tem muita influência. Em 'O outro lado do paraíso' houve uma boa abertura de mente, embora eu não concorde com muita coisa que vi na novela, mas acredito que abriu a mente do público para que olhasse para a pessoa com nanismo. Os meios de comunicação são fundamentais para trazer uma informação real, mas, infelizmente, algumas vezes eles optam pela precariedade na produção e pesquisa, com situações longes da realidade.", comenta.


Acervo Pessoal

Rebeca tem 28 anos, é formada em direito e criou o Looklittle justamente para ajudar nessa desmistificação sobre a pessoa com nanismo. Nas redes, traz essa realidade a qual estamos desacostumados a ver. Ela mostra diariamente a 73 mil seguidores um lado super útil da aplicabilidade prática das redes sociais como veículo transformador, agregador, sociabilizador e de constante reflexão, em prol de uma vida em comunidade mais justa, mais equânime e mais saudável.


O vídeo publicado por ela há uma semana no Instagram já alcançou mais de meio milhão de acessos. Isso somente nesse aplicativo, pois pelo whatsapp seria impossível tentar mensurar quantos compartilhamentos teve. Outros nomes com forte engajamento nas redes já deram sua curtida ele, como João Pedrosa, do BBB21, Fernando Fernandes, atleta paralimpico e também ex-BBB, Tokinho, influenciador digital, e Rainha Matos, criadora de conteúdo. O material gerado por Rebeca viralizou de maneira muito significativa e segue avançando com força e propriedade nas redes.


Conheça o petfil: @looklittle!

Комментарии


bottom of page