Você lembra de "Suave Veneno"? Ok... Nós entendemos, caso não guarde lembranças do título. Mas você lembra de Letícia Spiller com cabelos curtos e escuros, não é?! Sim... É justamente essa a lembrança que ficou.
As chamadas de "Suave Veneno" prometiam uma novela misteriosa, sensual e com bons desdobramentos. Nelas, um acidente inesperado era anunciado, mostrando que Inês (Glória Pires) teria algo a esconder, modificando a estrutura de uma família. Se por um lado, o patriarca Valdomiro (José Wilker) levava para casa a moça envolvida no acidente, do outro lado a matriarca Eleonor (Irene Ravache) passava a cuidar de um jovem artista deprimido, o jovem Eliseu (Rodrigo Santoro) deixando as filhas Maria Regina (Letícia Spiller), Maria Antonia (Vanessa Lóes) e Marcia Eduarda (Luana Piovani) incrédulas.
A trama apresentava o retorno de Aguinaldo Silva ao horário das 20h depois do sucesso "A Indomada" (1997). A diferença é que Aguinaldo vinha de uma sequência de novelas de realismo fantástico, como "Pedra sobre Pedra" e "Fera Ferida". A trama urbana de "Suave Veneno" até parecia ser interessante no início, mas alguma coisa fez com que a história não seduzisse o público. Havia um tom pesado demais na história. Como a antecessora "Torre de Babel" já era pesada, foi demais para o público. As chamadas não combinavam com a abertura densa ao som de Nana Caymmi. Aliás, uma abertura muito específica com um líquido viscoso escorrendo entre pedras de mármore (em alusão à empresa Marmoreal, do protagonista). Não dizia muita coisa sobre a trama em si.
Letícia Spiller sim estava ótima. No começo havia um excesso no tom dado à personagem, que era a grande vilã da história, mas depois que ela passa a se relacionar com o humilde Adelmo (Ângelo Antonio), esse tom muda e era se torna o grande nome da novela, com mais nuances emocionais. A sequência em que Adelmo leva a empresária para dançar forró no subúrbio é maravilhosa, pois revela a essência de Maria Regina, que, literalmente, carrega a novela nas costas.
O peso carregado por Spiller foi dividido pelo esotérico Uálber, papel muito bem defendido por Diogo Vilela. Não era comum na época que um personagem gay caísse tão bem no gosto do público. E Uálber foi tão bem aceito que estampou a capa do CD Internacional da novela. Uma trilha que resume bem aquele final dos anos 1990.
Já quem estampou a capa do CD Nacional foi Patrícia França, que fazia um papel relevante no início, a filha bastarda de Valdomiro, Clarice, que forjou o acidente de Inês/Lavínia no início da trama para conseguir que a espiã adentrasse na família dos Bergante e Figueira. A artimanha não ajudou o público a gostar da personagem e torcer por essa vingança, tanto que a Clarice saiu da história, enfraquecendo o plot principal da novela.
"Suave Veneno" não foi um sucesso de audiência e nem um sucesso popular, mas havia sim o respeito e o status de uma típica novela das oito. Com inspiração poética nos clássicos "Rei Lear", de Shakespeare, e "Um Corpo que Cai", de Hitchcock, conseguiu, ainda que timidamente, cumprir sua trajetória, mesmo incluindo um tom fantástico que já nem cabia bem, como a personagem de Fúlvio Stefanini (Marcelo Barone), uma espécie de diabo, coisa assim. O último capítulo, inclusive, é um dos mais empolgantes já produzidos pela TV.
Vale a pena ver (ou rever)? Eu acho que sim... Não é uma novela que eu queira colocar na fila para maratonar no momento, mas talvez eu dê play no futuro, nem que seja pra rever as boas cenas de Maria Regina Bergante de Cerqueira e Figueira.
SUAVE VENENO
Novela de Aguinaldo Silva
Ano: 1999
Capitulos: 209
Texto de Josuel Junior, do Portal Conteúdo
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